Wall Street, a toda-poderosa e omnipresente capital financeira da globalização, começa a dar sinais de um tsunami, que inevitavelmente arrastará consigo, os mercados financeiros mundiais, num estrepidante e incontrolável efeito dominó.
Eis alguns factos que apontam nesse sentido, a despeito do hoje anunciado crescimento do PIB americano e dos valores históricos da bolsa nova-iorquina, após várias semanas se terem aventurado a aproximar-se dos 14 mil pontos. Para alguns, menos atentos, repentinamente, ontem, os mercados de capitais norte-americanos, entraram num perigoso plano inclinado da sua evolução, invertendo todas as tendências aparentemente positivas, e não existem travões que lhe resistam.
Os três maiores índices bolsistas – Standard & Poor’s 500 (índice de acções cotadas em Bolsa), Dow Jones (DJIA/média de desempenho das indústrias cotadas na bolsa tradicional de Nova Iorque/NYSE) e o Nasdaq Composite (vulgarmente conhecida como a bolsa tecnológica dos EUA, mais especulativa e volátil que o DJIA, caíram ontem 1.5%, com as maiores quedas a registarem-se na última meia hora das transacções em Bolsa. Os preços do petróleo não refinado (crude oil) subiram 3%, fechando a USD 77.02, apenas 1 cêntimo abaixo do seu recorde histórico (New York Times, 27/07/2007).
A maior empresa de crédito hipotecário do país, Countrywide Financial, no dia 24, tocou os sinos a rebate ao revelar que um número crescente de clientes estava a não conseguir cumprir o pagamento das prestações dos créditos contratados e que o mercado imobiliário dava sinais de entrar numa fase de recessão. A recuperação poderá só acontecer em 2009, devido à acentuada depreciação dos preços dos imóveis que ultrapassou as piores quebras registadas nas últimas décadas (New York Times, 27/07/2007).
Era de prever face à evolução dos princípios fundamentais que permitem uma avaliação realista, sem cosméticas político-estatísticas, do funcionamento de uma economia, a saber:
Equilíbrios nas áreas real e monetária da economia;
Vectores orçamentais e monetários das políticas em execução;
Saldo orçamental e dívida pública;
Exposição à competitividade de mercados concorrentes no âmbito regulamentar do comércio internacional e saldo da balança comercial (défices vs.superávits)
Interdependência e interacção entre os mercados de bens, serviços e capitais;
Balança de pagamentos (composição e estrutura);
Política cambial/Taxas de câmbio (nominais e reais);
Evolução da paridade absoluta e relativa do poder de compra bem como da paridade descoberta das taxas de juro;
Evolução do mercado de câmbios e funcionamento dos regimes cambiais;
Outros indicadores: FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo); IDE (Investimento Directo Estrangeiro); Investimento Público e Privado; Consumo; Desempenho sectorial dos diversos sectores da economia; inflação, desemprego, entre outros
Assim, para quem, de facto, estava de olho nos fundamentais dos mercados estadunidenses, apenas ficou surpreendido por este pequeno tremor de terra (grau 3/4 na escala de Richter) ter acontecido só agora, e não em 2005/2006, quando já eram bem visíveis alguns sinais preocupantes nos fundamentais atrás referidos.
A dívida pública pendente do governo federal liderado por George W. Bush e Dick Cheney em 28/07/2007 às 03H33 TMG era de
$ 8 916 109 925 205,91
A população estimada dos EUA é de 302 547 509. Assim, cada cidadão americano que nasceu neste preciso momento já reparte com os seus concidadãos uma quota-parte da dívida no valor individual de 29 470, 12 dólares. A dívida do ex-país mais rico do mundo aumenta diariamente a uma média de 1 360 milhões de dólares desde o dia 29/09/2006…
Perante isto, passemos aos 2F's: Factos e Fundamentais
a) Défice público federal a galopar em dois anos (2005/2006) dos 7 para perto dos 9 biliões de dólares (1 milhão de milhões em Portugal = 1 trillion/trilhão nos EUA/BR);
b) Sucessivos défices orçamentais acumulados desde o início das guerras no Afeganistão (2001) e no Iraque (2003) e o consumo obsessivo-compulsivo de toneladas de recursos financeiros para alimentar o voraz Complexo Industrial-Militar;
c) Défices constantes no comércio EUA-China (cerca de 70 mil milhões de dólares/mês = 1 billion/bilhão EUA/BR);
c) Desde 2002 alguns analistas, como Dean Baker, Jon Tasini entre outros, e mega investidores/ especuladores como George Soros, Warren Buffet, mais duas mãos cheias de outros quejandos, chamavam à atenção para os perigos de umaimplosão do mercado provocado por uma nova e ameaçadaora bomba-relógio, apelidada de bolha imobiliária a qual, desde então, assumiu proporções crescentemente dramáticas;
Todavia, ao melhor estilo americano, os mercados funcionavam num intrigante ritmo de "business as usual", indiferentes a outros sinais não menos preocupantes:
Estagnação dos salários e queda do poder de compra real;
Refininanciamento crescente das famílias através do crédito hipotecário para suprir necessidades quotidianas de liquidez;
Aperto da concessão de crédito hipotecário às classes média e média-baixa proporcionalmente correspondente à elavada taxa de incumprimentos;
Os que perderam para os credores as suas garantias reais - apartamentos, moradias, etc. - estão na primeira linha de candidatos à inevitável onda de despedimentos/lay-offs que se perfila num horizonte não muito longínquo;
Ainda segundo o NYT, num artigo da responsabilidade de Andrew Ross Sorkin, aflora-se a possibilidade de “a turbulência nos mercados da dívida podem abrir caminho para fusões estratégicas, que podem usar liquidez e acções em vez de dívida, embora as empresas também possam optar em segurar as suas tesourarias.” (27/07/2007);
Tasini, porém, considera que as "fusões estratégicas" sobretudo quando resultam da reacção a uma crise tem como primeira consequência "os despedimentos para libertar os fundos necessários para financiamento da operação. De imediato os presidentes dos conselhos de administração marcam pontos, os bancos e as sociedades de advogados cobram, respectivamente, gordas taxas pelos serviços de engenharia financeira e honorários, enquanto milhares de famílias ficam arruinadas."
Afinal de contas bancos tem como "core business" viver dos juros do capital que emprestam aos seus clientes e os advogados cobram os seus serviços para os livrar de problemas, pagamentos de indeminizações, confiscos e arrestos de bens e, portanto, prosperam nas crises alheias.
Ao caírem as primeiras peças do dominó, em Nova Iorque, os mercados asiáticos e europeus, acompanharam a tendência depressiva. Na região Ásia-Pacífico o primeiro resultado negativo foi atingido pelo índice de referência bolsista japonês Nikkei, que caiu 2,4%, mas o efeito cascata provocou quebras ainda mais profundas nos índices de Taiwan/Taiex (- 4,2%) Singapura/SST(- 3,2%) e de Hong-Kong/Hang Seng (- 2,8%). Imperialmente a China nem se mexeu, fechando estável.
Os sectores mais atingidos foram os que mais dependem do comportamento dos consumidores anericanos: fabricantes de semicondutores, automóveis e equipamentos electrónicos sofreram perdas significativas no valor dos seus títulos.
Enquanto os fusos horários iam abrindo novos mercados o resultado era igualmente o de uma estrepitosa derrapagem com danos variáveis consoante os países: perdas superiores a 2% registaram-se em Espanha, França e Alemanha; Portugal (-3%, média da semana) enquanto o Reino Unido, Argentina, México e Brasil caíram mais de 3%.
A depreciação do dólar face ao euro parece uma tendência que se irá manter nos próximos tempos tendo fechado ontem a 1 EUR = 1.36484 USD;
Estamos quase em Agosto de 2007. Em 1929, a Grande Depressão aconteceu no tradicionalmente fatídico mês de Outubro, mas houve um pico no valor cotações no dia 3 de Setembro. Em cerca de um mês a queda média do mercado accionista de Wall Street foi de 17%. Mas o pior estava para vir. No dia 24 - a 5.ª feira negra - foram transaccionadas 12,9 milhões de acções um recorde nunca antes atingido. O pânico instalou-se com a esmagadora maioria dos investidores a quererem sair do mercado a qualquer preço. Na 2.ª feira, dia 28, o índice Dow Jones bateu mais um recorde, ao registar perdas de 13%. O dia seguinte - a 3.ª feira negra (29/10/1929) - ficaria na história como a maior catástrofe financeira mundial (só ultrapassada 40 anos mais tarde) com a venda de mais 12,4 milhões de acções. Nesse único dia a bolsanva-iorquina registou um prejuízo descomunal para a época: 14 mil milhões de dólares arderam entre as 08H00 e as 16H00. Nessa semana as perdas acumuladas chegaram aos 30 mil milhões de dólares, 10 vezes mais do que a totalidade do orçamento anual federal daquele ano, e muito mais do que custara ao Tesouro americano as despesas contabilizadas com a I Guerra Mundial...
Ontem, citado pelo NYT, Tobias Levkovich, estrategista chefe do Citigroup dos EUA para a gestão de patrimónios reconheceu que "existe potencial para que o medo se transforme em pânico" ao comentar os recentes acontecimentos. "Contudo, transforma-se em realidade porque acontece na dinâmica do mercado", concluiu.
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Pedro Varanda de Castro
--Publicada por Pedro Varanda de Castro em INTELLSTEPS a 7/27/2007 07:26:00 PM
Comentário
Em primeiro lugar e antes de tudo, o mercantilismo, o lucro e a economia aberta e a pressão para seguirem as regras, (deles).
A União Indiana como o nome diz é uma União de nações e de povos.
Para mim e para muitos é claro que o Induísmo não é uma religião, é uma filosofia, digamos, não uma religião deísta, apenas se tornou o que é hoje quando da formação da União Indiana, cujas consequências e cisões conhecemos após a independência.
Se pensarmos como se formam as nações e os estados, ficamos a saber que se baseiam sempre em algum tipo de moral e esta é sempre baseada na religião deísta. O desenvolvimento, as liberdades, a consciência de um povo são sempre moldados e formam este corpo, a partir das concepções saídas da religião.
O secularismo e os seus evangelistas baseados na nova religião, a que chamam de humanista, baseada nas ideias do Iluminismo, têm feito o trabalho completado em todo o mundo pelo liberalismo, na sua nova forma revisionista na Europa, reinventada por um senhor dinamarquês segundo se diz, nos meios dos muito inteligentes economistas que por aí andam, imposta pelas economias baseadas e ditadas pelos países mais poderosos do mundo, até agora, enformados pelo Consenso de Washington.
Depois da banalização das novas tecnologias o poder do chamado ocidente deixa de o ser. Os consensos já não podem ser impostos.
Assim, a China, infringindo e ignorando a propriedade intelectual, (os activos incorpóreos), provoca a nível mundial uma quebra das regras que os neoliberais tanto apreciam e a que chamam de freemarket. Mas… chamar free market a uma economia mundial que funciona deste modo é para rir, porque se trata de facto de uma anarquia.
A verdade é que a hipocrisia guia a maior parte dos estados do chamado ocidente.
Se o PIB Norte Americano cresceu assim, uma das causas foi a construção, mas a verdade é que o estado norte americano sofre de um dilema insolúvel, o neoconservadorismo e mesmo o revisionismo neoliberal, essa febre que já chegou à Europa, e que será a causa da destruição da União, se é que ela alguma vez existiu, por causa da subserviência dos seus dirigentes ao chamado aliado, que de facto não passa de um patrão; esse estado, dizia eu, tem um dilema e uma baia: é a questão da construção de infraestruturas e a sua modernização. Como o estado não faz, fazem as empresas inflacionando os preços e a necessária amortização e lucros que se repercutirão no preço final. Quem não se lembra do apagão e da interdependência com o vizinho Canadá?
A bolha do imobiliário rebentou e o optimismo do homem que manda no comércio não sei se coincidirá com o do banco central.
De qual forma como eles gostam tanto de apregoar, “é a economia estúpido”, pois é, a economia estúpidos e a arrogância não é boa conselheira estúpidos.
A China tem um sistema económico onde o neoliberalismo não pega, a estrutura essencialmente familiar e muito específica torna-a um capitalismo à parte e eles não são mordomos dos patrões americanos.
Os japoneses resistem.
Os Indianos não são diferentes do que sempre foram, um sistema de castas.
A Coreia segue um pouco o exemplo japonês, mas não segue de certeza à letra as imposições norte americanas, como querem constantemente impor ao Japão pelo tratado ou melhor a imposição do chamado Consenso de Washington.
Atentemos ao desenvolvimento da bolha.
Nos combustíveis a Europa não se atrasou, os governos é que entregaram aos americanos tudo e hipotecaram o futuro, ficando provado que as comissões são decididas em Washington, na composição e nas políticas.
Depois dos subsídios para desenvolvimento agrícola, veio a política de quotas, a seguir os subsídios por quotas, depois o set aside e o desmantelamento das empresas agrícolas e a destruição e venda ao desbarato de toda as infraestruturas criadas nas explorações.
Agora querem acabar com o set aside, quando se sabe, que as reservas mundiais de cereais estão nas mão de especuladores.
Será só incompetência ou serviço ao patrão?
Será por acaso?
Os comissários e a comissão existem e servem quem?
A Europa? Duvido.
Ursos são alguns, mas nem todos.