quarta-feira, agosto 01, 2007

Murdoch assume controlo accionista do diário Wall Street Journal e da Dow Jones Corp.

Rupert Murdoch, presidente do grupo News Corporation, após longas e complexas negociações, conseguiu o que pretendia: controlar a holding Dow Jones & Company, proprietária de centenas de meios de comunicação, entre os quais sobressai a jóia da coroa - The Wall Street Journal (WSJ) - por 3,66 mil milhões de euros (USD 5 billions).
O clã Bancroft, que actualmente detinha cerca de 60% dos direitos de voto, é oriundo de emigrantes brancos protestantes anglo-saxões (conhecidos como WASP's - White Anglo Saxon Protestants), a maioria dos quais constituiu a elite da sociedade da Nova Inglaterra, e que fundou a capital do actual estado do Massachusetts, a neo-aristocrática e agradável cidade de Boston. A poderosa e influente família, que rejeitou de imediato, e vigorosamente, a oferta de Murdoch, acusou-o de pretender controlar o WSJ violando a ética e deontologia jornalísticas até aqui, alegadamente, respeitadas pelos accionistas maioritários. Em uníssono sustentaram que nunca interferiram na política editorial do jornal, desde há muito gerido por gestores profissionais, sem qualquer parentesco com os patrões.
Os actuais accionistas âncora, Bancroft e Jim Ottaway Jr., cuja família possuía 6.2% de acções com poderes especiais de voto (Classe B) da holding Dow Jones, tentaram convencer dois dos homens mais ricos do mundo - Warren Buffett e Bill Gates - a cobrirem a oferta do mass media tycoon nascido na Austrália, mas actualmente naturalizado americano. Ambos, manifestaram o seu desinteresse em investir no sector multimediático.
A oferta, de imediato considerada pelos analistas como "generosa", por supostamente ser superior ao seu valor real de mercado, acabou por ser aceite no final da noite de ontem, em Nova Iorque. Para tanto, terá contado a disponibilidade de Murdoch para criar uma comissão independente, que se encarregará de liderar a gestão da mudança, designadamente no que se relaciona com a política de recursos humanos (promoções, despromoções, despedimentos e novas contratações...).
O Wall Street Journal, que juntamente com o puro sangue anglo-saxão Financial Times, era considerado um eterno medalhado nas olimpíadas do jornalismo económico e financeiro, em nossa opinião, não tardará muito a alinhar na defesa, mais ou menos descarada, das políticas públicas da Casa Branca e do Pentágono, no apoio indefectível ao presidente-sombra Dick Cheney, e a aumentar o grupo de colunistas, editorialistas e fazedores de opinião, membros ou simpatizantes da linha dura do minúsculo, mas super influente, grupo neoconservador, amaestrado pelo inenarrável Irving Kristol e acolitado por Norman Podhoretz. Juntos e ao vivo, com o sempre disponível e pró-activo apoio de D. Rumsfeld e D. Cheney, eles foram os ideólogos da israelização da política externa americana - das administrações Reagan/Bush (1981-1989) Bush/Quayle (1989-1993) passando pela actual "Guerra contra o Terror", executada pela administração George W. Bush (2001- ) e da americanização forçada das estruturas do poder político e militar no Médio Oriente. Afeganistão, Iraque e Líbano foram os primeiros alvos. Na sua agenda propagandística defensora dos "supremos interesses da América" e da model democracy made in America, sempre financiada por Murdoch, continuam sob mira todos os rogue states - estados mafiosos segundo o léxico neocon - como a Síria, o Irão, a Somália, o Sudão, o Líbano e, obviamente, a Coreia do Norte. Olham com desconfiança para o Paquistão e com profunda raiva contra a renascida e nova-rica Rússia, do omnipotente e esfíngico Vladimir Putin.
Relativamente à China, não deverá haver problema, mesmo com o ignaro Kim Jong-Il, sob a protecção do secular "Império do Meio". Murdoch é actualmente casado com uma ex-funcionária sua, chinesa, de Hong-Kong, a qual, segundo consta, tem sido importante na materialização de alguns negócios da News Corp. com o governo de Pequim. Bem, são negócios até agora sem qualquer retorno para o magnata globalista australiano-americano, pois caminham, há mais de 10 anos, a passo de caracol. Tanto quanto se sabe os prejuízos acumulados não são despiciendos, so far, mas como Murdoch parece acreditar que os negócios da China são, também, para os não chineses, o pipeline de libras, euros e dólares (americanos e australianos) continuará aberto. So far... so good...
Depois das bem sucedidas operações em Inglaterra (Sky Channel, Sky News, BSkyB, The Times, The Sun, News of the World) e nos Estados Unidos (Fox News, New York Post, e a histórica fábrica de sonhos de Hollywood, 20th Century Fox), Mister Murdoch comanda um império multimedia caracterizado por inquietações mais ou menos esquizofrénicas de pôr o seu core business ao serviço de estratégias de acumulação de poder e de dinheiro que, conjugados com o seu incomensurável ego, ninguém sabe onde irá parar.
Talvez o ex-PP e antigo Jefe del Gobierno de Sua Majestade Juan Carlos I, o ibero-globalista José Maria Aznar, um dos neófitos na administração do conglomerado Murdoch, possa explicar qual a estratégia do grupo para o mundo ibero-latino-americano.
Afinal de contas, parece ser um território ainda por descobrir...
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