terça-feira, julho 17, 2007

Fundamentalismo islâmico: Tempo de agir, antes que seja tarde

OPINIÃO

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA Ru

Director e Chefe de Redacção

11 de Setembro.

Uma data que todo o mundo recordará por muitos anos. Pelos ataques terroristas nos EUA em 2001. Mas igualmente pelo ataque terrorista, patrocinado pela CIA, que assassinou Salvador Allende, o presidente marxista democraticamente eleito de Chile, na mesma data, mas muitos anos antes, em 1973. E é aqui que começa a história.
Para analisar a questão de terrorismo, é necessário definir os princípios fundamentais para debate. O mais básico remete para a terminologia, a qual deverá ser a mesma para todos os casos. Admitindo que os ataques perpetrados pela al-Qaeda estão errados, temos também de condenar o terrorismo de estado praticado pelos Estados Unidos de América e respectivos aliados, nos últimos 60 anos. Não deverá ser omitida a globalização de terrorismo de estado, traduzido em práticas imperialistas executadas por nações ocidentais durante séculos.
Estas são as causas básicas do fundamentalismo – interferência, intromissão e ingerência - em culturas estrangeiras, em diferentes costumes, na imposição de valores desfazados dos países e nações visados e onde, por isso, só podiam fracassar. A estes factos acresce ainda a a teimosa tendência para redesenhar, a régua e esquadro, os mapas geopoliticos, dividindo as pessoas e criando desequilíbrios que desrespeitaram séculos de história, cultura e fenómenos sociológicos.
Estes factores semearam as condições para que as tradições locais reaparecessem mais tarde e corrigir os desequilíbrios, dado que sob a tutela da ONU foram garantidos a todas as nações direitos iguais . O avanço gradual da investigação científica e a globalização do conhecimento, deram ao indivíduo a consciência do seu poder para desafiar o Estado, multiplicando os focos de tensão . Se há apenas cem anos, uma tribo africana que desejava proteger o seu território contra os imperialistas europeus, e constatou que as suas lanças e escudos eram inúteis contra as metralhadoras, hoje, a bomba de pregos, a botija de gás, o frasco de cianeto, material dos reactores nucleares, um automóvel ou uma mochila cheia de explosivos, podem ter um efeito devastador na opinião pública. Este é o principal objetivo do terrorismo.
Afirmar, neste momento, que os terroristas já ganharam, está errado, sejam quais forem os "terroristas" a que nos referimos. O terrorismo de estado, perpetrado por Washington no Iraque, cujo elenco Lynndie England, a grande heroína americana, os campos de concentração de Abu Ghraib e de Guantanamo, a tortura, a violação sexual, os crimes de guerra, os assassinatos em massa, os ataques a alvos civis em lugar de fazer ponto de mira para objectivos militares, medraram a vingança nos viveiros da violência, no Iraque.
O Iraque, país que Saddam Hussein manteve livre de terroristas, onde diariamente entram fronteiras adentro magotes de fundamentalistas oriundos de todo o mundo muçulmano, de Marrocos à Indonésia, está fora de controlo. Num ritmo quase diário, somos confrontados com continuados incidentes à volta do mundo, de entre os quais apenas citamos alguns: as tentativas em Londres e Glasgow, a Mesquita Vermelha em Islamabad, a decapitação de 10 marinheiros por Abu Sayyaf e a Frente Moro, Militantes Islâmicos nas Filipinas.
No entanto, estes ainda são incidentes isolados e, até agora, não criaram um clima de pânico entre a opinião pública das sociedades palco destas acções exactamente aquelas que estão na origem do problema ao desestabilizarem indivíduos e comunidades. Por isso, nem o terrorismo de estado praticado por Washington foi bem sucedido, tendo idêntica sorte as muitas tentativas executadas por várias organizações fundamentalistas. Estas não passam de bandos de assassinos e hereges, porque distorcem a mensagem central do Corão, que prega a protecção e honra todas as formas de vida.

Hoje e amanhã

Esta é a realidade actual. E amanhã?
Enquanto os apelos para rebeliões feitos pela al Qaeda não são correspondidos pela vasta maioria das populações que deseja viver em paz, uma pequena fracção das pessoas dispostas a fazerem-se explodir com coletes e cintos carregados de explosivos parece inesgotável, visando massacrar o máximo número de vítimas inocentes.
Apesar das inúmeras operações de segurança, que custam centenas de milhões de dólares, esses activistas continuam a planear e a executar com sucesso ataques terroristas a nível planetário, como tem acontecido nos últimos anos. Ninguém deve esquecer os perversos ataques perpetrados antes e depois de 11 de Setembro. A al Qaeda continua a conceber, a operar e continuará a cumprir os seus planos durante muitos mais anos, porque foi-lhes criada uma causa.

Quando, não Se

Por isso, seria bom que a comunidade internacional compreendesse que sua actual política mais não é do que uma táctica, para ganhar algum tempo, até que haja de novo mais um ataque que provoque novos danos humanos e materiais. Os próprios agentes de segurança, em muitos países, concordam que apesar de todos seus esforços, o caso [o terrorismo, n.T.] resume-se à questão de saber o "Quando" e não o "Se".
A história não pode ser alterada, mas desculpas podem ser pedidas e recompensas pagas, enquanto um processo de diálogo sincero e de respeito mútuo pode atenuar as tensões numa altura em que a Humanidade deveria dar as mãos, abraçar outros povos como irmãos em vez de lançar bombas sobre eles, ou no meio deles. Não existem diferenças entre o terrorismo de Washington e o terrorismo islâmico. Nenhuma distinção pode ser feita entre uma criança iraquiana que fica sem pernas ou sem cabeça e a sua família foi morta por um piloto americano, ou quando um civil ocidental perde os seus entes queridos sempre que um tresloucado jovem grita Allahu Akhbar e liga os fios.

Seis passos fundamentais

1. Todos os países ou povos que se envolviam na escravatura – incluindo os africanos – devem assinar uma pedido formal de desculpa [Charter of Apology, no original, n. T.], admitindo o que foi feito e reconhecendo que foi um erro;
2. Todas as nações que se empenharam em práticas imperialistas deveriam assinar colectivamente um documento, comprometendo-se a atingirem metas claramente definidas para os países que eles "civilizaram" a ferro e fogo, mas sempre em nome da Bíblia. É completamente inaceitável, por exemplo, que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio talvez não sejam alcançados até 2015;
3. Os Estados Unidos de América devem admitir sua parte das culpas ao alimentar as chamas do fundamentalismo islâmico quando armaram, ajudaram e auxiliaram os mujaheddin contra o governo progressivo do Dr. Najibullah no Afganistão e devem reconhecer que a al Qaeda e os Taliban são o resultado e o desenvolvimento natural do monstro que criaram;
4. A comunidade internacional deve admitir, de uma vez por todas, a inviolabilidade de todas as fronteiras e isto inclui tanto o Kosovo, como Israel. É totalmente inaceitável que Israel viole a lei internacional ao manter o controlo dos territórios que ocupou durante a guerra. A menos que queira jutificar tais actos para reclamar para si a soberania dos territórios que ocupou. Portanto deve haver uma retirada israelita, total e faseada, dos territórios ocupados;
5. Às comunidades islâmicas deve ser concedido o tempo e o espaço necessários para resolver a questão do fundamentalismo através de um processo de diálogo com a juventude rebelde a qual, na prática, apenas satisfaz os propósitos dos oportunistas que, confortavelmente, prosperam com o terror;
6. Finalmente, uma Carta Global de Direitos Humanos Fundamentais deve estabelecer linhas claras para que cada ser humano tenha:
a) o direito à inviolabilidade da sua pessoa e da sua humana condição;
b) o direito a uma alimentação adequada;
c) o direito a uma educação que produza resultados no seio da comunidade onde uma pessoa está inserida, nomeadamente um posto de trabalho com remuneração suficiente para construir uma vida digna e mínimamente confortável;
d) um sistema de saúde que garanta os direitos humanos básicos e globais.
Com estes quatro preceitos fundamentais, as questões dos abusos sobre crianças, a mutilação genital feminina, a emigração, o crime, a fome e a doença, entre muitas outras, são abordadas.
Com boa vontade, pode ser feito. Leva apenas 12 anos, por exemplo, para implementar um sistema de educação básico e secundário. Nada disto é possível sem debate e discussão, mas poderá sê-lo apenas através do diálogo e da reciprocidade.
Se continuarmos pelo actual caminho, hoje semeamos ventos mas, amanhã, colheremos as tempestades. Os nossos filhos vão crescer num clima de ódio, porque a guerra entre as civilizações já começou.

Será que foi para isto que nós nos esforçamos tanto durante dois mil anos?

Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
12/07/2007


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