domingo, agosto 30, 2009

quinta-feira, setembro 20, 2007

Mensagem aos leitores e co-autores


O intellsteps vai continuar. Porém, com um formato diferente do inicial. A partir de hoje será exclusivamente um fórum para troca de ideias e opiniões sobre as questões (macro e micro) que se colocam à sociedade global em que vivemos. Boa parte da informação factual pesquisada pelo signatário, a partir de 20/09/2007, é disponibilizada na Internet através do URL http://www.lawrei.eu/mranewsletter/ - newsletter da Sociedade de Advogados Miguel Reis & Associados.
Até breve.
Tsunami 2007-2010

terça-feira, setembro 18, 2007

O senhor dos orgulhosos

O socrático PM foi de visita à América, decerto foi ouvir instruções do patronato.
Como o húngaro Presidente da França, foi este também prestar vassalagem ao grupo que domina a América e o mundo.
Veremos, tal como vimos com Durão, se aparecem os resultados, como sucedeu em França.
A guerra do Iraque, das guerras mais iníquas que se fizeram até hoje, que envergonham a humanidade, (eu sinto-me envergonhado), feita por grupos de rafeiros contratados e pagos com os bens roubados ao povo iraquiano, pagos pelo que se chama estado e impostos dos americanos e pelo saque feito em seu nome e já agora por um dos poucos estados não laicos do mundo.
A Rússia ressurge, no meio de um capitalismo caótico que não obedeceu aos critérios do Consenso de Washington.
Este tipo de capitalismo novo, que muitos economistas não entendem, não é muito diferente do americano, apenas funciona com a economia controlada pelo estado até determinado limite. Nos Estados Unidos o estado é a economia subterrânea, funcionando a economia da droga e da prostituição, por exemplo, no estilo brasileiro ou mexicano, tipo mensalão.
Mas o equilíbrio de forças hoje, mais que antigamente existe e ir ao Irão só com o consentimento russo e chinês.
Pode acontecer com raids aéreos, mas irá decorrer da forma como aconteceu até agora?
Duvido.
A UE mais uma vez, se verifica que não existe.
A França mantém a voz grossa como a que teve antes da I e II guerras mundiais, digamos que é muito grossa para tão pequenos tomates.
A NATO faz o seu papel de guardar os campos de papoilas no Afeganistão e o Kosovo aguarda novo banho de sangue.
Hoje, pela primeira a vez, desde há umas semanas, as bolsas subiram nos pontos, graças a intervenções que não têm que ver com os mercados e de uma forma contraditória, a pátria do liberalismo, intervém no mercado, continuando a defender o freemarket e o neoliberalismo.
Mas dos Ingleses tudo é de esperar, fazem recordar o pitbull, muitas vezes não conhece o dono.
Vamos ver se a Espanha se mantém Espanha e se a regulação do mercado pelo Banco Central se mantém assim, com voz grossa e tomates apertados. Se eles forem na enxurrada nós iremos também.
A manobra do Fed de sobe e desce taxas de juros e a especulação do preço do petróleo parecem ser coisa de aviso, tipo tiro, aos chineses e aos indianos, veremos.
Entretanto aguardamos a visita do PM de Portugal eleito pela carneirada, vamos ver se já fala melhor inglês e se vai ameaçar o Irão.
Depois de todas as diatribes da missão para o novo CPP e CP, espero que os deputados todos, o Ministro da Administração Interna, o Ministro da Justiça, o da Saúde, o PM, o PR e mais uma série de figuras deste sítio, dispensem as seguranças e as libertem para cursos de rendas e bordados, para ensinar os meninos a não falar com estranhos numa perspectiva pedagógica e preventiva, não vão as criancinhas desencaminhar os pedófilos que por aí andam e os que podem regressar.
Entretanto os bancos podem continuar a sugar o pessoal do sítio e a ter as isenções do costume, porque já podem pagar à vista os favores. Quem disse que o mensalão era invenção brasileira?

Recomendo uma leitura de Hobbes, porque está mais actual que nunca, “ O Leviatã”.

"Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", é a guerra de todos contra todos. Não pensemos que mesmo os homens mais robustos desfrutem tranqüilamente as vitórias que sua força lhe assegura. Aquele que possui grande força muscular não está ao abrigo da astúcia do mais fraco. Este último - por maquinação secreta ou a partir de hábeis alianças - sempre é o suficientemente forte para vencer o mais forte. Por conseguinte, ao invés de uma desigualdade, é uma espécie de igualdade dos homens no estado natural que faz sua infelicidade. Pois, em definitivo, ninguém está protegido; o estado natural é, para todos, um estado de insegurança e de angústia.
Assim sendo, o homem sempre tem medo de ser morto ou escravizado e esse temor, em última instância mais poderoso do que o orgulho, é a paixão que vai dar a palavra à razão.

Greenspan admits Iraq was about oil, as deaths put at 1.2m
Peter Beaumont and Joanna Walters in New YorkSunday September 16, 2007
The Observer
The man once regarded as the world's most powerful banker has bluntly declared that the Iraq war was 'largely' about oil.
Appointed by Ronald Reagan in 1987 and retired last year after serving four presidents, Alan Greenspan has been the leading Republican economist for a generation and his utterings instantly moved world markets.
In his long-awaited memoir - out tomorrow in the US - Greenspan, 81, who served as chairman of the US Federal Reserve for almost two decades, writes: 'I am saddened that it is politically inconvenient to acknowledge what everyone knows: the Iraq war is largely about oil.'

sábado, setembro 08, 2007

Orgulho e preconceito


"Seu direito não tem outro limite que seu poder e sua vontade. No estado de sociedade, como no de natureza, a força é a única medida do direito. No estado social, o monopólio da força pertence ao soberano. Houve, da parte de cada indivíduo, uma atemorizada renúncia do seu próprio poder.
Mas não houve pacto nem contrato, o que houve, como diz Halbwachs, foi "uma alienação e não uma delegação de poderes". O efeito comum do poder consistirá, para todos, na segurança, uma vez que o soberano terá, de fato, o maior interesse em fazer reinar a ordem se quiser permanecer no poder.
Apesar de tudo, esse poder absoluto permanece um poder de fato que encontrará seus limites no dia em que os súditos preferirem morrer do que obedecer. Em todo caso, esta á a origem psicológica que Hobbes atribui ao poder despótico.
Ele chama de Leviatã ao seu estado totalitário em lembrança de uma passagem da Bíblia (Job ) em que tal palavra designa um animal monstruoso, cruel e invencível que é o rei dos orgulhosos."
Os possuídos por Leviatã, refiro-me aos Ingleses, há muito que o são.
Vem a propósito de que acreditam de forma religiosa em tudo o que os jornais escrevem.
Assim foi em relação ao Iraque.
Demonizado que foi, depois de afinal se ter demonstrado que não tinham armas de destruição em massa.Invadiram, desmantelaram à bomba, desmontaram por completo toda a estrutura de um estado e criaram uma coisa que Hobbes o autor de Leviatã mais temia:
«"Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", é a guerra de todos contra todos. Não pensemos que mesmo os homens mais robustos desfrutem tranqüilamente as vitórias que sua força lhe assegura. Aquele que possui grande força muscular não está ao abrigo da astúcia do mais fraco. Este último - por maquinação secreta ou a partir de hábeis alianças - sempre é o suficientemente forte para vencer o mais forte. Por conseguinte, ao invés de uma desigualdade, é uma espécie de igualdade dos homens no estado natural que faz sua infelicidade. Pois, em definitivo, ninguém está protegido; o estado natural é, para todos, um estado de insegurança e de angústia.Assim sendo, o homem sempre tem medo de ser morto ou escravizado e esse temor, em última instância mais poderoso do que o orgulho, é a paixão que vai dar a palavra à razão. (Essa psicologia da vaidade e do medo é, em Hobbes, uma espécie de laicização da oposição teológica entre o orgulho espiritual e o temor a Deus ou humildade.) É o medo, portanto, que vai obrigar os homens a fundarem um estado social e a autoridade política. »
Alguém se apressou a condenar Mr Blair? Afinal tratou-se de uma invasão que se veio a revelar um acto de pirataria, na sequência de outros, feitos por indivíduos sem escrúpulos ao serviço de Sua Majestade como o caso de Drake, armado entretanto cavaleiro, ou Sir como eles tanto gostam de os chamar.
Por aqui, conhecemos bem as façanhas desse assassino, aguarda-se no Algarve que nos devolvam o que nos roubaram.
O super juíz apressou-se a emitir um mandato internacional aos responsáveis pela carnificina importada, depois da destruição do estado laico existente no Iraque?
Já agora:Para onde foi o ouro e os dólares do Banco Central Iraquiano?Para onde foram as peças dos museus do berço da humanidade?
Claro que foram os iraquianos que as televisões censuradas, pisaram e repisaram na sua teoria que todos são crianças inocentes, porque assim são tratados os súbditos de Sua Majestade, pelos Murdochs deste mundo.
Do ouro negro nem falar.
Continuam a morrer os soldados de Sua Majestade, profissionais é certo, porque Leviatã não deixa dar a outra face, nem perder a face, apesar da barbárie de que foram porteiros, caso a que já estão habituados.
Agora, ficam abespinhados, horrorizados, confusos perante a barbárie e o crime de lesa súbditos de Sua Majestade por terem sido constituídos arguidos, facto requerido por não se sabe quem.

Afinal qual a suspeita?

Abandono dos filhos enquanto jantavam com os amigos.

Desaparecimento da filha mais velha que deveria estar à guarda dos pais que se presume morta.

Com o ar que se lhes conhece, deve ser da porcaria que comem, vêm assim tratar-nos como sempre nos trataram, com arrogância e espírito superior, ressalvo aqui, raríssimas excepções de alguns, muito poucos, súbditos britânicos que nos trataram de igual para igual.

Presume-se, que o caso se fique pelas esfinges gélidas, a não ser que o gelo quebre na parte mais fina e que fique como os que conhecemos, graças à justiça e ao novo código penal, tão a propósito e a pedido de Leviatã.

domingo, setembro 02, 2007

Os agiotas, os numerários, os infranumerários e o rebanho

Em entrevista de António Ribeiro Pereira ao CM, uma Senhora Ana Bela Pereira da Silva, empresária, disse, sem medos, sobre a banca (em Portugal) que esta é:”uma mentira”; ou seja, a banca não é parceira da economia, e é uma vergonha.
“Não é parceira do desenvolvimento e da economia. A banca não corre riscos.. Tudo o que faz é com garantias reais. Não apoia as empresas e apoia o crédito pessoal que tem taxas mais altas e garantias reais. É tudo ao contrário do que se passa na Inglaterra, França, USA e Alemanha.
E disse mais esta Senhora, com S grande: “ Em Portugal não temos banca. Não precisam fazer nada, podem estar quietinhos e paradinhos e têm lucros extraordinários.
Os bens da banca vêm em grande parte, do crédito pessoal e do crédito à habitação.
Sobre as empresas que dela necessitam (banca), é dito preto no branco que a margem de manobra é tão reduzida” que num dia destes nem podem autorizar a compra de um selo. A análise de risco é feita com base em formulários. Conhecer o negócio é que não. Não interessa.
É preciso coragem para o afirmar, num sítio como este…
A cobertura mediática a um banco que é considerado o maior banco privado do sítio, roçou o vergonhoso e fez corar de vergonha a quem ainda a tem.
Pelo conteúdo e pelos episódios´
Vergonha porque se ouviu falar um homem que em termos de dicção é um desastre, fala entredentes, sem se ouvir o ranger dos mesmos.
Fez uma afirmação que não vi desmentida: “ Não foi por amizade nem por missas que Paulo Teixeira Pinto foi indicado para o cargo”… - pois não! Diria eu, pobre toupeira: decerto não fez as necessárias genuflexões, não usou o cilício e também ninguém lhe perguntou o número de missas, coisa que ficará para sempre no segredo dos deuses, que não de Deus que não é para aqui chamado.
O que pergunto é o que interessa aos portugueses ou aos indígenas do sítio o que se passa com as comadres ou com os numerários ( termo interessante, já que falamos de um banco).
Sobre o que esta corajosa senhora disse, fica o silêncio de toda uma sociedade adormecida, sobrecarregada pelo agiotismo e pela ditadura da plutocracia e pelas oligarquias que governam e que lhes prestam vassalagem, a que chamam no Brasil outro nome.
O Banco do sítio faz que existe, funciona em estrutura como o Fed e se alguém se queixa, por exemplo, das multas cobradas ao antecipar o pagamento da dívida, os responsáveis assobiam para o lado. A culpa é do mercado que deve ser desregulado como convém.
Com os governos sucessivos a matar a classe média, o Estado moribundo morrerá e os muito ricos, bem podem contratar segurança privada de confiança, para lhes proteger os bens, a família e o pêlo.
A banca comporta-se como uma casa de penhores, onde as famílias aliciadas colocam tudo no prego, os agiotas, esses, vão ficando cada vez mais ricos.
A riqueza que criam é apenas papel, daí o gozo que dá ver a chamada falta de liquidez, na crise do crédito e dos derivativos, na solução encontrada pelo Fed, pelo BCE, para resolver uma situação de insolvência, numa coisa que é a Dona Branca Global, ou sistema em pirâmide.
Eu, como Toupeira, não pertencente à classe dos roedores, como ratos e ratazanas, vou gozando o prato, defendendo-me de gatos, com artimanhas e esperando pela praga vinda de Espanha.
Aguarda-se a peste, a tularémia, e a leptoespirose… aconselho os gatos, se entretanto não desatarem a usar venenos para matar os ratos.
Bem haja Senhora Presidente da Associação de Mulheres Empresárias.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Os celeiros estão vazios, a culpa é dos ratos

A responsável comunitária da Agricultura, responsabiliza, no seu blog, o comércio pela subida dos preços dos alimentos básicos, como o pão, o leite, ovos e carne.
A farinha subiu 75%, desde Abril dos dois lados do Atlântico, depois de uma seca no hemisfério norte e de um Verão húmido.
As reservas mundiais de cereais estão no seu nível mais baixo nos últimos 25 anos.
Deita assim por terra o argumento da procura dos biocombustíveis., como responsáveis pelo aumento de preços dos cereais, as secas e as humidades. Chamo argumento primitivo e no mínimo trata os consumidores como criancinhas e atrasados mentais.
Disse ainda, que esperava que os consumidores europeus gastem o seu dinheiro com a boca e estejam dispostos a pagar um pouco mais por produtos CEE, ganhando em qualidade e no cuidado que temos com o bem estar ambiental, reafirmando a política agrícola comum aprovada em 2003.
O ridículo das afirmações é que estão tão fora da realidade que parece que a referida senhora despertou agora de um longo período de hibernação, esquecendo tudo o que foi feito até agora.
Há alguns anos foram incentivadas as produções. Depois foram estabelecidas quotas. Entretanto pagou-se para não se semear.
Agora ao que parece acabaram os subsídios para o set aside, ou seja os incentivos para a não produção.
Entretanto a maquinaria agrícola e as infraestruturas existentes foram desmanteladas ou foram apodrecendo, devido aos não incentivos à produção.
A senhora esqueceu de dizer que a política agrícola comum não é comum em coisa alguma, é bizarra e ilógica, para ser benevolente e não querer acusar de interesses alheios à União. Serve os interesses e sempre serviu objectivamente os especuladores e, alguns, poucos países, como a França e sobretudo a produção agrícola do outro lado do Atlântico.
Aqui não há amigos, há negócios.
O milho subiu de preço, porque a procura dos biocombustíveis aumentou, nos Estados Unidos e por aqui não se produz.
Esta situação levou assim ao aumento do preço dos cereais, das rações e logo de todos os produtos que dependem dos mesmos.
A incompetência deveria ser penalizada e saber porque só tão tarde acordaram do torpor os burocratas, levando à conclusão que a União não existe, é uma teia de interesses e de armadilhas.
Outra questão intrigante é porque carga de água se chamam de biocombustíveis produtos que poluem o mesmo que os chamados fósseis que também são biocombustíveis, afinal a origem é também bio.
Esta escalada da procura dos “bons e maus combustíveis”, vai levar à utilização de cada vez maiores zonas de terrenos desmatados, maiores destruições de florestas e de reservas de água, no fundo para servir os de sempre.
Aguarda-se o novo capítulo, em nome do mercado desregulado, seja o do trabalho seja o das mercadorias, em nome dos princípios do neoliberalismo e dos seus revisionistas

domingo, agosto 26, 2007

O olho do furacão

A crise já anunciada e a calmaria antes da tempestade

O que parecia ser uma falta de liquidez é de facto um caso de insolvência.
Afinal o “laissez faire” e o mercado livre é uma coisa inventada apenas para os outros. Faz lembrar o menino que era o dono da bola e só jogava por isso, quando a equipa estava a perder, pegava na bola e voltava para casa amuado.
Aqui o caso difere num facto simples: o dono da bola não tem para onde fugir, vai ficar sem a bola e sem a casa e não se pode queixar dos outros.
Bem… Queixar pode, mas de pouco vai servir.
Depois de anos e anos a imporem a ferro e fogo as regras de Williamson, conhecidas por Consenso de Washington, principalmente nos países do 3º Mundo, com uma excepção miserável na Nova Zelândia, conseguiram cavar um fosso ainda maior entre ricos e pobres miseráveis,destruindo as classes médias, em nome do mercado livre.
No México a situação que começou por uma questão de segurança no tempo de Clinton, descambou até hoje numa situação, semelhante à portuguesa, um fosso sem precedentes entre os muito ricos e os miseráveis, prensando a classe média, passando pelos grupos indígenas marginalizados e perseguidos, eles os verdadeiros mexicanos a que os intelectuais de pacotilha chamam de México profundo.
Depois de toda a porcaria feita, alguns temem a criação de uma narco democracia tipo Colômbia, corroborando o facto que tudo o que é regime político, desde que por lá tenham passado os senhores do FMI, Banco Mundial e afins, se pode chamar de democracia.
Neste sítio mal frequentado, onde já se vasculham os caixotes do lixo, local que a ASAE devia vigiar, porque de uma actividade económica se trata, continua tudo bem, o centrão sobrevive, os bloquinhos procuram tacho e os pCs continuam a dar emprego aos camaradas, aos filho e afilhados e aos amigos e amantes.
A crise de insolvência cá chegará não duvidem, e o BCE pouco poderá fazer…


O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) dos Estados Unidos, Ben Bernanke, calculou na quinta-feira que as perdas no sector de hipotecas de risco podem somar entre US$ 50 biliões e US$ 100 biliões (um bilião é igual a um milhão de milhão – 1 000 000 000 000.
Bernanke afirmou que a inflação nos EUA "é maior do que gostaríamos", o que afasta as possibilidades de uma redução das taxas de juros. Entre Junho de 2006 e de 2007, os preços subiram 2,7% no país.
No segundo dia em que foi ao Congresso informar sobre o desempenho da economia, Bernanke classificou como "bastante significativas" as perdas na área de hipotecas de risco, e aproveitou para anunciar que o Fed se prepara para endurecer as normas que regulam os créditos. Hipotecas de risco são as estendidas a consumidores com mau histórico de pagamento de empréstimos. O fim do "boom" imobiliário nos Estados Unidos levou dezenas de pessoas e empresas que fazem empréstimos especializados deste tipo de produto financeiro à falência, inclusive a New Century Financial, segunda maior companhia do sector.
No entanto, o presidente do Fed enfatizou, no Comité de Bancos do Senado, que o esfriamento do mercado imobiliário não reduziu "de forma significativa" o consumo, responsável por quase dois terços da actividade económica nos EUA. O economista disse que, "com a queda no valor do imóvel", os consumidores reduzem suas despesas entre 4% e 9%. Bernanke destacou que "os índices mais confiáveis dos preços imobiliários não caíram a nível nacional"."Simplesmente subiram mais lentamente", afirmou.
Ao comparecer perante o Comité de Finanças da Câmara de Representantes, Bernanke reconheceu que a estagnação no mercado imobiliário diminuirá o ritmo de crescimento económico americano, e alertou para a pressão inflacionária, o que fez com que as bolsas caíssem.
O presidente do Fed disse que as agências de avaliação de crédito começaram a rever o nível de risco dos investimentos em hipotecas de risco. Além disso, quis tranquilizar os legisladores ao afirmar que o Fed apresentará no final do ano novas normas para proteger os consumidores de anúncios "incompletos ou enganosos" sobre hipotecas. As regras também limitarão as “multas” impostas às pessoas que fazem empréstimos pelo pagamento antecipado de créditos."Pedi uma revisão completa das normas que regulam as hipotecas de risco", afirmou Bernanke diante dos legisladores, que mostraram preocupação com as repercussões da crise sobre os cidadãos e a economia em geral.
Quanto à inflação, Bernanke reiterou suas advertências de que existem "grandes riscos" de aumentos dos preços. Entre eles, citou o alto nível de uso da capacidade de produção e a "significativa" alta dos preços da energia e dos alimentos, "que pode elevar as expectativas inflacionárias". Bernanke disse que está preocupado com o aumento do valor dessas duas categorias de produtos, que poderia pôr a estabilidade da inflação a longo prazo em dúvida.
"O importante é a suficiente confiança em que os riscos (de aumento da inflação) diminuíram", afirmou.
Bernanke também comentou as relações comerciais dos EUA com a China, um tema bastante controverso no Congresso, já que vários legisladores acusam o país asiático de manter o valor da moeda chinesa artificialmente baixo, para beneficiar os seus exportadores.O presidente do Comité de Bancos, o democrata Christopher Dodd, disse que, antes do início de Agosto, apresentará para votação um projecto de lei para sancionar a China por "manipular" sua taxa de câmbio. Bernanke sublinhou que compartilha a "frustração" de Dodd sobre a lentidão na valorização do yuan, mas acrescentou que apenas o ajuste cambial não resolverá o "desequilíbrio comercial" entre os dois países. O presidente do Fed afirmou que também é necessário que a China melhore o sistema de segurança social e o sistema financeiro, o que aumentaria a demanda interna.
In Intellsteps, há mais de um mês publicado

sábado, agosto 25, 2007

O milho e os pardais do sítio


O assunto vem a propósito de milho e de dores intestinas provocadas por uma invasão de propriedade e por confusão gerada com actores já habituais.
A indignação tem razão se legítima e constante e se for genuina, o que não parece ser o caso.
Ser genuino neste sítio tornou-se uma excepção conveniente assim como a indignação deixou de ser um direito para passar a ser um preceito de ocasião, como a que faz o ladrão.
A questão colocada em termos de esquerda e direita perde poder de argumentação.O problema quanto a mim tem a ver com o desafio à autoridade do Estado.A desobediência civil.A pergunta é simples colocada por gente sem princípios, onde as ideias de esquerda e direita deixaram de ter razão de ser. O que perguntam será:Até onde nos deixam ir? Até onde podemos minar a autoridade do Estado?Infelizmente as respostas estiveram à vista: o Estado não existe. Está em regime de outsourcing, utilizando o termo anglosaxónico de fornecimento de bens e serviços, pagos por todos os que pagam impostos. Passo a explicar:As forças policiais e o estado delegou o poder repressivo da pior maneira, não para prevenir o crime ou os desvios através de acções preventivas e repressivas, banalizando as últimas, usando forças de segurança e organismos afins, com funções sobrepostas a forças que ficaram com poder residual, como o caso da ASAE, Brigada Fiscal, Polícia Marítima, Inspecção do Ambiente, Entidades Reguladoras de toda a ordem e muitas outras, que alguns de nós só conhecemos através de acções mediáticas e de marketing, que deixam o mero cidadão a perguntar-se onde está a lei e onde está o outro lado da mesma. Funcionam sem cultura de prevenção, alheias ao estado económico do país, fechando, multando e prendendo, sem a mínima sensibilidade em relação ao futuro económico das respectivas empresas, habitualmente pequenas, familiares ou médias, com vista grossa para os poderosos grupos, com excepções pontuais de faz de conta.Fala-se em Estado em outsourcing, atendendo ao facto que se trabalham à comissão ou à percentagem, reforçam o princípio que o Estado morreu ou que o seu poder está adormecido e daí até à desobediência civil generalizada vai um passo, mesmo e por mais treinos antimotim que recebam as referidas forças.A questão do milho transgénico é um facto de menor importância e as dores revelados por alguns, como o caso da senhora do artigo e outros, é mero folclore político.Preocupa-me por exemplo que se encerre uma pecuária porque tem efectivos a mais e que por isso se mande abater a totalidade dos efectivos, com reproductores incluidos e encerrar a mesma, quando aqui ao lado as autoridades se interrogam muitas vezes antes de tomar decisões deste tipo, duvidando que aconteça alguma vez uma acção deste género. Comparadas com muitas das explorações do país vizinho as do nosso, são estâncias de luxo, medidas ambientais incluídas.È claro que ainda se vão pagando as coimas, os impostos e coisas do género inventados por um Estado híbrido que ainda não compreendeu que o burro quando se habituar a passar fome, morrerá de inanição.O hibridismo é tentar impor políticas neoliberais, como o flexiemprego, os baixos salários, a perda das regalias sociais de muitos, a par das regalias milionárias de muito poucos, a morte da classe média pelos impostos de toda a ordem, pela plutocracia e o agiotismo sem deveres fiscais, a hipocrisia do apoio ao aumento demográfico, através de escalões, aplicados por vesgos de espírito, apoiando melhor e a qualquer preço o aborto como método anticoncepcional, mostrando estatísticas de morte, com números falseados à partida e “en passant”, como se de uma epidemia se tratasse e como se um ser humano por nascer fosse uma ameaça ao bem estar dos que por cá sobrevivem, em nome do secularismo evangélico do politicamente correcto e da revolução permanente de Trostzky, agora numa nova fase: o neoliberalismo imposto a nível global e a democracia parlamentarista a todo o custo, mesmo que exercida por espantalhos ou marionetes, tentando cumprir o consenso de Washington, descrito por um desconhecido chamado Williamson e que afinal descobriu que o FMI, o Banco Mundial, a ONU e outras organizações transnacionais, sediadas em Washington, decidiam o futuro do animal humano, por mais diversas que sejam as seus habitats.Este é um Estado que desafia as leis de Thomas Hobbes e vive no fio da navalha.É um Estado que alimenta as suas forças através das comissões, terços ou sextos da maquia.Não pode fugir e dizer que o último feche a porta, porque actualmente não há por onde fugir, quando for cada um por si. As armadilhas estendidas, se esquecidas são como as minas colocadas sem mapeamento e sem ordem, a pensar que são sempre para outros ou para os filhos deles.Será que o Estado está nas mãos do Rei dos orgulhosos?Acerca do Leviatã de Hobbes:"Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", é a guerra de todos contra todos. Não pensemos que mesmo os homens mais robustos desfrutem tranquilamente as vitórias que sua força lhe assegura. Aquele que possui grande força muscular não está ao abrigo da astúcia do mais fraco. Este último - por maquinação secreta ou a partir de hábeis alianças - sempre é suficientemente forte para vencer o mais forte. Por conseguinte, ao invés de uma desigualdade, é uma espécie de igualdade dos homens no estado natural que faz sua infelicidade. Pois, em definitivo, ninguém está protegido; o estado natural é, para todos, um estado de insegurança e de angústia.Assim sendo, o homem sempre tem medo de ser morto ou escravizado e esse temor, em última instância mais poderoso do que o orgulho, é a paixão que vai dar a palavra à razão. (Essa psicologia da vaidade e do medo é, em Hobbes, uma espécie de laicização da oposição teológica entre o orgulho espiritual e o temor a Deus ou humildade.) É o medo, portanto, que vai obrigar os homens a fundarem um estado social e a autoridade política.Os homens, portanto, vão se encarregar de estabelecer a paz e a segurança. Só haverá paz concretizável se cada um renunciar ao direito absoluto que tem sobre todas as coisas. Isto só será possível se cada um abdicar de seus direitos absolutos em favor de um soberano que, ao herdar os direitos de todos, terá um poder absoluto. Não existe aí a intervenção de uma exigência moral. Simplesmente o medo é maior do que a vaidade e os homens concordam em transmitir todos os seus poderes a um soberano. Quanto a este último, notemo-lo bem, ele é o senhor absoluto desde então, mas não possui o menor compromisso em relação a seus súbditos.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Operação Estrela Vermelha: Aplacar a ira de Putin e amansar os falcões





1. Kissinger e Putin, discretamente em Moscovo…


Henry Alfred Kissinger, antigo Conselheiro Nacional de Segurança e Secretário do Departamento de Estado nas administrações Nixon e Ford (1969-1977), foi o primus inter pares, no passado dia 13 de Julho, durante uma super discreta reunião de trabalho com o Presidente Putin, na sua residência oficial, em Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscovo.
O importante conclave visou apaziguar as recentes tensões político-militares entre a Casa Branca e o Kremlin, provocadas pelos falcões americanos sob o comando do poderoso e imprevisível vice-presidente, Dick Cheney. Os neoconservadores insistem em pressionar alguns aliados da NATO (Polónia e Checoslováquia, por exemplo) a aceitarem nos seus territórios a instalação de novas bases militares e um enigmático conjunto de inovadoras armas nucleares, na serventia das fronteiras russas. O n.º 1 da renovada potência global que é a Rússia actual não escondeu a sua irritação. Menos ainda, o sonoro ranger de dentes.
Kisssinger, fundador e presidente da Kissinger Associates, Inc., uma empresa global de consultadoria em geopolítica e globalização, afirmou em Moscovo, em Abril passado, que George W. Bush e a chefe da diplomacia, Condoleezza Rice, teriam aprovado a ideia da criação de um grupo de trabalho – bilateral, informal e semi-secreto – para abordar as questões geoestratégicas, numa base de reciprocidade e interesse mútuo. O “realpolitiker” estadunidense enfatizou que ambos apelaram à comunidade internacional para que tratem a Rússia como um parceiro entre iguais, no propósito de satisfazer os desejos do presidente russo. Registe-se que as visitas de Kissinger a Moscovo, sempre discretas e quase nunca noticiadas pelos grandes conglomerados mediáticos mundiais, têm sido mais frequentes do que muitos poderiam pensar, desde que Putin ascendeu ao poder, em 2000.

2: Os “Big Bosses” mostram cartão amarelo a Bush & Cia.


No entanto, parece óbvio que, se alguém fica mal neste retrato, Bush, Cheney e Rice lideram o pelotão. Os três têm criticado, sistemática e publicamente, as posições de Putin e do líder chinês Hu Jintao, no que respeita aos projectos nucleares do Irão e da Coreia do Norte. Esta última questão parece resolvida, mas apenas porque a China assim o quis. A outra é um assunto que o “Grupo de Trabalho Estratégico” russo-americano tem agendado para resolver, por via diplomática, provavelmente em 2008, quando Bush deixar a Casa Branca, e independentemente de quem lhe irá suceder. Será assim tão simples? (interrogam-se os menos crédulos)…
A resposta é afirmativa. Por detrás das movimentações do antigo chefe do Departamento de Estado, convergem os interesses de três dos mais influentes centros do poder real global: (Bilderberg Group (BG), Trilateral Commission (TC) e o Council on Foreign Relations (CFR).
Estas organizações elitistas que só admitem membros por convite, e após apertados critérios de selecção, são prodigamente influenciadas por clãs anglo-americanos e por poderosas famílias europeias com interesses, igualmente estratégicos, no diálogo transatlântico. As monarquias inglesa, holandesa e espanhola, os herdeiros das famílias que dominam os mercados financeiros globais e indústrias estratégicas - defesa, energia, agro-alimentar, transportes e media.
O número é pequeno. Incluiu os Estados Unidos protestante (Rockefeller, Forbes, Ford, Kennedy, Adams, Cabot, Delano, Taft, Getty, Guggenheim, etc.) e a Europa judaico-cristã (Rothschild, Oppenheimer, Camondo, Warburg, Lehman, Goldman, Sachs, Schiff, Krupp, Thyssen, Flick, Bertelsmann, Cohen, Abraham, Solomon, Asper, Koplowitz, Agnelli, etc., etc. Directa, ou indirectamente, estas famílias controlam centenas de conglomerados fornecedores de produtos e serviços para o Complexo Industrial-Militar (CIM) e para as Administrações Públicas dos respectivos países. Todos estão activamente alinhados nesta tentativa de restabelecimento de um clima internacional semelhante ao vivido durante a guerra-fria. Mais estável e previsível.
Porém, menos de oito anos passados sobre o início do presente século, algumas regras do jogo já mudaram, ou para lá caminham aceleradamente, e novos poderes emergentes têm que participar no processo. A exclusão é insustentável. Inclusão é a única opção disponível (ou o mal menor). Quer isto dizer que o número de comensais nos jantares de gala, vai aumentar. Nas mesas um facto raro, senão, inédito: as fisionomias dos convidados, antes exclusivamente caucasianas, são agora, também, exóticas e coloridas. Sinal dos tempos. Elas espelham a inexorável transferência dos centros de poder, sócio-político e sócio-económico, para o Oriente e o Hemisfério Sul.

3. O assalto falhado, ou como o sequestrador virou refém


Estes factos são a prova insofismável de que o sonho neoconservador judaico-americano acabou transformado em pesadelo. Todavia, a grande maioria dos seus instigadores, apoiantes e simpatizantes continua a defendê-lo. Classificam-no como “bem intencionado”, “generoso” e prenhe de “boa-fé”. Mas, afinal de contas o que pretendiam os arquitectos da América, versão XXI?
O objectivo era claro e aparentemente simples, face às consequências planetárias da implosão do Império Soviético: transformar os EUA não numa superpotência global, mas na única. O esquema foi urdido no final do século passado e publicamente divulgado, em 2000. Porém, era tão arrogante, inepto e descaradamente desonesto, nos planos material e intelectual, que dificilmente seria exequível. Resumidamente, a ideia nuclear consistia na criação de um todo-poderoso xerifado mundial – com um chefe (EUA) e dois ajudantes (Israel e Grã-Bretanha) – que prestaria serviços de segurança e protecção militar a todos os outros países do mundo, incluindo a exangue Rússia e a aparentemente distraída e laboriosa China, tão ocupada em produzir e enriquecer que, pensavam eles, não lhe restava tempo para pensar.
O tributo a pagar aos “Césares do Terceiro Milénio” seria uma bagatela – o controlo e a exploração, livre e democrática, dos seus recursos nacionais e naturais (petróleo, gás, minerais estratégicos e preciosos – ouro, urânio, nióbio, titânio, crómio, mercúrio (prateado), cobalto, bauxite/alumínio, tungsténio, cobre, manganésio, níquel, platina, tântalo, e muitos mais).
Para se ter uma ideia da dimensão e magnitude do delírio neoconservador é recomendável a leitura do documento original intitulado Reconstruindo as Defesas da América: Estratégias, Forças e Recursos para o Novo Século, concebido e elaborado pelo PNAC - Project for the New American Century/Projecto para o Novo Século Americano – um centro neoconservador de estudos e investigação sobre questões internacionais. As semelhanças com as práticas mais sinistras da Máfia/Cosa Nostra são aterradoras…

Em abono da verdade, este documento mais não era do que a actualização de um outro, escrito em 1996 (na fase final do 1.º mandato da administração Clinton/Gore), talhado à medida para boicotar os acordos israelo-palestianos de Oslo. Em ambos, estiveram presentes, directa ou indirectamente, a convicção, empenhamento e apoio financeiro ou intelectual, de Donald Rumsfeld, Dick Cheney, Paul Wolfowitz, Dov Zakheim, Scootter Libby, Elliot Abrahams e Norman Podhoretz para citar apenas alguns. Menos de um ano depois da divulgação da nova doutrina militar proposta pelo lóbi judaico-americano, os citados, acompanhados de mais umas dezenas de correligionários, passaram a ocupar importantes cargos na primeira Administração Bush/Cheney (Jan/2001). Após o 11 de Setembro, retiraram-na das gavetas, deram-lhe umas pinceladas mais agressivas, e puseram-na oficialmente em prática, em 2002, com o pomposo nome de Estratégia de Segurança Nacional.
Os resultados estão à vista em vários países – Afeganistão, Iraque, Líbano, Cisjordânia, Palestina, Faixa de Gaza. Todos estão atolados no caos, na guerra civil, em limpezas étnicas e em insanáveis conflitos político-religiosos. Balcãs (designadamente, no Kosovo), Curdistão, Chechénia (a espinha atravessada na garganta de Putin), Arménia, Bielorússia, Uzbequistão e as restantes repúblicas ex-soviéticas, que fazem fronteira com a Rússia e a China, individualmente ou em conjunto, tornaram-se geopoliticamente hipersensíveis. Intervenções diplomáticas com elevada descrição, intuição e talento nas artes de negociar e de gerar consensos são os ingredientes recomendados para esta caldeirada geopolítica.
A situação em que vivemos é preocupantemente perigosa. O principal risco, face à situação no terreno, converge com o absoluto descontrolo e a permissividade dos países mais poderosos e das organizações multilaterais. Toneladas de discursos, programas e planos para o combate, alegadamente firme e implacável, a três dos grandes flagelos mundiais – o tráfico de droga, de armamento (convencional e nuclear) e a lavagem de dinheiro – são atirados para o lixo da história, todos os anos por sucessivos governos, independentemente dos seus credos ou ideologias.
Em regiões crescentemente instáveis, e permeáveis à livre circulação de pessoas e de bens militarmente melindrosos, não se vislumbram resultados eficazes

4. Kissinger/Primakov: Bombeiros num incêndio longe do rescaldo


Perante este cenário manda o bom-senso que sejam tomadas medidas eficazes de contenção. Para tanto, está provado que não é através do belicismo e militarismo que serão conseguidos, em tempo útil, resultados satisfatórios para prevenir e evitar um “tsunami” político-militar de dimensões imprevisíveis.
O protagonismo de Kissinger nestas movimentações informais e semi-secretas é o sinal de que os sinos tocaram a rebate nos centros mundiais de decisão, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. A sua entrada em cena representa uma amarga derrota para os indefectíveis neoconservadores.
Agora, como diria Pombal, a prioridade é enterrar os mortos e cuidar dos vivos. O mesmo é dizer que importa recuperar o que ainda é possível e, pacientemente, juntar e colar os cacos resultantes das coboiadas organizadas pela dupla Bush/Cheney na Eurásia e no Médio Oriente.
Por tudo isto, podem chamar-lhe o que quiserem mas, de facto, esta é mais uma operação de diplomacia paralela, protagonizada pelo octogenário (84) HK. Escassos sete anos depois do fatídico 9/11, a velha raposa da geopolítica mundial, com o alto patrocínio de Putin, deu o pontapé de saída para uma série de cimeiras, bilaterais e informais, entre os EUA e a Rússia. A iniciativa convoca Washington e Moscovo para o debate sobre o futuro das relações entre as duas potências. “Rússia-EUA: Um olhar sobre o futuro” foi o ponto de partida acordado. Suficientemente amplo para nele caber tudo o que é estratégico para ambos os lados.
Não estamos a falar de um novo mapa cor-de-rosa. Os tempos mudaram e o mundo também. Os “mandantes anglo-americanos” parece terem chegado à conclusão de que é mais avisado acomodarem os respectivos interesses à mesa das negociações e não em trincheiras militares. Para já com os russos. Logo a seguir com a China, Índia e Brasil. Uma plataforma mais alargada, plural e realista na óptica do equilíbrio global de poderes.
Do lado soviético, a tarefa de liderar a equipa negocial coube ao agora septuagenário (77) antigo porta-voz do Soviete Supremo da URSS na era de Gorbachev e primeiro-ministro (09/1998 a 05/1999) de um dos instáveis governos que caracterizaram a fase final da era de Yeltsin: Yevgeny Maksimovich Primakov. Experiente e reciclado da ressaca soviética, é um profundo conhecedor dos serviços secretos russos e das relações americano-soviéticas desde o início da guerra-fria, como veremos mais adiante.
No que concerne a peso político e experiência, Kissinger e Primakov representam os interesses da casta de dirigentes políticos “realistas” que considera ter sido um erro caro e perigoso permitir que a transição do mundo bipolar para outra coisa qualquer, que ainda se encontra longe da estabilidade, tenha sido conduzida de forma desregulada. O mundo foi colocado perante uma nova realidade. Multiespectral pelas sombras e ilusões que pode provocar. Multilateral pelo substancial alargamento da mancha global de decisão nas suas diferentes e, por vezes, contraditórias valências. Por isso é mais complexa, difícil de controlar e muito menos previsível. Nesta nova correlação de forças, indianos, chineses e brasileiros, são cartas do baralho que não devem ser menosprezadas ou ignoradas.
No final da primeira reunião de trabalho, em 13 de Julho passado, os dois altos dignitários das gerontocracias americana e soviética declinaram comentar detalhadamente o conteúdo das conversações que classificaram de “bem sucedidas”. Ambos sublinharam que se tratou do “primeiro de uma série de encontros de alto nível” entre as duas superpotências do século XX.
“Discutimos muitos temas. O nosso objectivo não era obter qualquer tipo de cobertura mediática, nem marcar pontos em termos de relações públicas ou de enviar quaisquer tipos de mensagens propagandísticas para consumo doméstico. Estivemos aqui para resolver problemas”, precisou Primakov. “Em meados de Dezembro voltaremos a encontrar-nos em Washington, D.C.,” para trocar impressões com o presidente Bush, concluiu.
Por seu turno, Kissinger, no estilo que lhe é peculiar, negou que o unilateralismo de Washington tenha sido um dos pontos críticos da reunião. Astutamente enfatizou que “a proliferação nuclear” e “as ameaças atómicas” são os reais perigos para a paz mundial e relegou para plano secundário as políticas públicas estadunidenses. Um realpolitiker, na mais profunda concepção germânica do termo…
“Nós apreciámos o tempo que o presidente Putin nos concedeu e a forma franca como expôs os seus pontos de vista”, sublinhou Kissinger classificando-os como uma abordagem caracterizada pelo “realismo e abertura”. “Todavia, não penso – acrescentou – que a expansão [americana] seja um problema nesta fase. Neste momento o problema chave centra-se na forma como poderá ser evitado um conflito nuclear e, neste particular, nós acreditamos que a Rússia e a América devem ter objectivos comuns.”
Esta retórica significa que a reunião foi bem mais fértil em pomos de discórdia do que em áreas de convergência e que, a linguagem utilizada, por vezes, poderá ter ultrapassado os limites do politicamente correcto.

5. Putin: Arte geopolítica tropeçou na rasteira da “imprensa livre”…


A ideia deste tipo de encontros surgiu no início do segundo trimestre de 2007, em Moscovo, durante um encontro privado entre Putin, Kissinger e Primakov. O chefe do Kremlin tê-los-á encorajado a desenvolver e a aprofundar o debate, mas com os pés bem assentes na terra.
“O resultado das vossas reflexões deve manter-se afastado dos nossos ministérios dos Negócios Estrangeiros para evitar poeiras e ruídos inconvenientes. O desfecho do diálogo deverá ter o mesmo tratamento dado àqueles assuntos que, uma vez acordados, deveremos pôr em prática”, terá dito Putin.
Pragmático e calculista, o presidente russo sugeriu que as conversações deveriam envolver um alargado painel de especialistas e aconselhou que as abordagens fossem realizadas sem preconceitos, com abertura e franqueza, de parte a parte.
“Não nos podemos dar ao luxo de permitir que as relações entre a Rússia e os Estados Unidos sejam contaminadas por questões internas de cada país. Não devemos permitir que o nosso relacionamento bilateral seja negativamente influenciado por temas tão tacanhos como, por exemplo, campanhas eleitorais na Rússia ou nos EUA,” acentuou o chefe de estado russo.
É obvio que ao fazer declarações sobre o tema, moderadamente reproduzidas por uma ínfima parte da imprensa russa, objectivamente, Putin quis lançar a confusão e a divisão no campo adversário. Contudo, não foi muito bem sucedido, uma vez que, os chamados meios de comunicação de massas do Ocidente, quase ignoraram o tema salvo raríssimas excepções…
A este respeito quem melhor que o patriarca David Rockefeller (BG + TC + CFR) para nos dar a sua opinião sobre os bastidores dos “fazedores de opinião” e a promíscua relação que mantêm com os diversos agentes do (s) Poder (es): “Estamos gratos ao The Washington Post, The New York Times, Time Magazine e outras grandes publicações, cujos directores participaram nas nossas reuniões, respeitando os seus compromissos de discrição, durante quase 40 anos. Teria sido impossível desenvolvermos o nosso plano para o mundo se a nossa acção tivesse estado sujeita aos holofotes da publicidade durante estes anos. Mas o mundo está agora mais sofisticado e preparado para seguir em frente, rumo a um governo mundial. A soberania multinacional de uma elite intelectual e de banqueiros globais é seguramente preferível, à autodeterminação nacional praticada nos séculos passados.”
A frase foi proferida por DR, sem sofismas, em Junho de 1991, em Baden Baden (Alemanha), durante uma das reuniões da Trilateral Commission, perante uma audiência de prosélitos dos principais países e continentes, empenhados na criação da supracitada rockefelleriana Nova Ordem Mundial (NOM). Entre eles encontravam-se alguns directores de jornais, rádios e televisões dos países mais desenvolvidos do mundo. Nos estatutos editoriais que os regem encontramos arrebatadas declarações de princípio sobre a independência, a separação de poderes, a procura da verdade etc…

6. Os “Dream Teams”

6.1. Os Globetrotters americanos


A equipa americana, para além de Kissinger, destacado membro da Santíssima Trindade fundamentalista da superioridade moral da “Civilização Ocidental” (BG+TC+CFR), incluiu outros sequazes seus, todos políticos com lugar cativo na categoria dos pesos pesados da NOM anglo-americana:

- George P. Shultz, também octogenário (86), foi um influente Secretário de Estado no 1.º mandato da administração Reagan/Bush (pai) entre 1982-1989. Muito experiente na gestão do gigantesco aparelho diplomático e na condução da política externa do país, Schultz ocupou, com discrição mas poderosa influência, vários cargos ministeriais na administração Nixon; simultaneamente dirigiu e comandou (1974-1982) a gigantesca Bechtel (um dos maiores conglomerados industriais, nas áreas da construção civil, obras públicas, petróleos, energia nuclear e equipamentos de defesa, com estatuto de fornecedor directo do Pentágono). Tal como Kissinger, é membro de vários think tanks, como o CFR. Juntamente com Condoleezza Rice (sua protegida no mundo académico e na alta política) foi instrumental na estratégia que, desde 1998, definiu e coordenou a eficaz plataforma eleitoral republicana. Em 2000, George W. Bush jurou “respeitar e fazer respeitar” a Constituição americana na cerimónia de posse como 43.º presidente dos EUA;

- Robert Rubin, (68), banqueiro de topo e “partner” em empresas financeiras do grupo Rockefeller (Citigroup, Goldman Sachs, p. ex.). Foi Secretário do Tesouro (1995-1999), cargo que nos Estados Unidos é equivalente ao de ministro das finanças na Europa, na administração Clinton/Gore; é membro da Phi Beta Kappa Society, a mais antiga associação académica e honorífica americana, que estimula e reconhece a excelência universitária. Fundada em 1776, a PBK aglutina mais de meio milhão de membros; actualmente é também vice-presidente em exercício do CFR;

- Thomas Graham, Jr., embaixador (73 anos), um dos mais experimentados diplomatas e negociadores americanos sobre questões relacionadas com controlo de armamento, não proliferação de armas nucleares e desarmamento; desde os anos 50, foi conselheiro de vários presidentes e de uma miríade de órgãos do poder executivo e legislativo dos Estados Unidos, bem como de inúmeras ONG’s, fundações e organizações cívicas; é um vibrante defensor da tolerância zero relativamente à proliferação nuclear e ocupa cargos executivos e consultivos num significativo número de empresas;

- Samuel Nunn, antigo senador da Geórgia (1972-1997), foi, em 2001, co-fundador com Ted Turner (o visionário empreendedor que criou a cadeia televisiva CNN), da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear (NTI, acrónimo inglês), ocupando até ao presente os cargos de co-presidente e presidente do conselho de administração (CEO) daquela influente organização, cuja principal missão consiste em reduzir a proliferação de ADM’s – Armas de Destruição Maciça; Neste campo liderou louváveis e eficazes processos legislativos (Programa de Cooperação para a Contenção de Ameaças, também conhecido como Programa Nunn-Lugar (por ter sido elaborado conjuntamente com o senador Richard Lugar) no âmbito da Agência para a Contenção de Ameaças Militares; desempenhou um papel central como dinamizador, em estreita cooperação com o Kremlin, dos meios financeiros e logísticos necessários para efectivar o desmantelamento de ADM’s e correlativas infra-estruturas na ex-URSS e países satélites, conforme o acordo SALT II (Tratado para a Limitação de Armamento Estratégico). Fundou e é docente na Sam Nunn School of International Affairs, faculdade integrada na Universidade Técnica da Geórgia, e ocupa o cargo de presidente do conselho de administração do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Acumula estes cargos com os de administrador de grandes multinacionais como a petrolífera Chevron Corp. (Grupo Rockefeller), Coca-Cola, General Electric e Dell Computer.


- David O’Reilly, 60 anos, irlandês é, desde 2000, o presidente e CEO da Chevron Corp. Fez toda a sua carreira, após a formatura em engenharia no University College, em Dublin, e tal como os seus compagnons de route nesta “operação Estrela Vermelha”, é um executivo de topo e membro activo de várias organizações, públicas e privadas, think tanks (institutos de estudos e pesquisa) e de instituições que se ocupam de assuntos geopolíticos e geoestratégicos relacionados com a indústria petrolífera. Eis uma pequena parte da longa lista: Director da Comissão Executiva e da Comissão de Políticas Públicas do American Petroleum Institute; Director do Eisenhower Fellowships Board of Trustees; membro do World Economic Forum's International Business Council, do National Petroleum Council, do Business Council, do JPMorgan International Council, do King Fahd University of Petroleum & Minerals International Advisory Board, da American Society of Corporate Executives. Final e incontornavelmente é membro proeminente da poderosa Trilateral Commission [co-fundada, em 1973, por David Rockefeller e Zbigniew Brzezinski, antigo Conselheiro para a Segurança Nacional (1977-1981) na Administração Carter].

6.1. A equipa da Federação Russa

- Yevgeny Maximovich Primakov, Para além de antigo primeiro-ministro foi, entre outros cargos importantes, o último porta-voz do Soviete Supremo da URSS e, a seguir ao golpe militar de 1991, director-adjunto do KGB. Os seus críticos e inimigos, internos e externos, acusam-no de, entre 1956-1970 ter sido um agente encoberto do KGB, disfarçado de jornalista radiofónico e corresponde do jornal oficial do PC da URSS, Pravda (A Verdade), no Médio Oriente. Nome de código: Maksim. No final do consulado Yeltsin, como ministro dos Negócios Estrangeiros (1996-1998), a sua acção ficou marcada pela política de “desacoplamento” de Moscovo relativamente a Washington, impondo um curso mais de acordo com a tradição russa – nacionalismo, reforço da segurança externa e aumento da influência e controlo sobre as políticas internas nas jovens repúblicas recém independentes das “garras de Moscovo”. Por outro lado, foi neste período que o Kremlin reforçou os seus laços com a China e a Índia, abrindo caminho a um contrapoder à supremacia unilateral estadunidense. Primakov, entre 1999/2000, ainda se aventurou como potencial adversário de Putin nas eleições presidenciais que se seguiram à inesperada renúncia de Yeltsin, em 31 de Dezembro de 1999. Manobrista e táctico, quando percebeu que não tinha apoios suficientes para o vencer, o ex-KGB abandonou a corrida e pouco depois era conselheiro do actual chefe do Kremlin.

- Sergei Viktorovich Lavrov, 57 anos, licenciado em 1972 pelo Instituto do Estado de Moscovo de Relações Internacionais; domina com proficiência diversas línguas (inglês, francês e cingalês). Este último aprendeu-o no Sri Lanka (antigo Ceilão), onde iniciou a sua longa carreira diplomática – com cargos sucessivamente mais importantes quer no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Moscovo (1976-1981), quer na ONU (1981-1988) onde cumpriu uma primeira missão. Nos anos de brasa, que coincidiram com o final da era Gorbachev e o início da era Yeltsin, regressou a Moscovo, ao MNE, onde retomou o seu percurso como director-adjunto do Departamento de Relações Económicas Internacionais (1988-1990), tendo chegado a vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa (1992-1994); depois voltou a Nova Iorque para chefiar a Representação Permanente da Federação Russa nas Nações Unidas. Em 2004, Putin chamou-o para ocupar o posto de ministro dos Negócios Estrangeiros, sucedendo a Igor Ivanov, um influente representante de uma das quatro facções políticas mais importantes nos corredores do Kremlin (os siloviki, um substantivo que, em russo, significa “poder” e popularmente serve de rótulo aos membros do complexo militar-industrial russo e funcionários da polícia secreta).

- Yuli Mikhailovich Vorontsov, com 78 anos de idade, serviu o país como diplomata de carreira, desde a sua licenciatura, na Escola Superior de Relações Internacionais, Moscovo, em 1952. Tal como Putin nasceu em São Petersburgo. Da escola Gromiko, toda a sua juventude foi dedicada ao estudo e à política; o primeiro posto da carreira ocupou-o em Nova Iorque (1954-1958) integrando a equipa de diplomatas juniores da Missão Permanente da URSS na ONU. Nos anos 60/70 foi conselheiro da Missão e da Embaixada soviética em Washington. Em 1969, era ministro-conselheiro, às ordens do celebérrimo embaixador Anatoliy Dobrynin que mantinha uma relação especial com Kissinger, durante a Administração Nixon. Foi embaixador na Índia, em França, no Afeganistão, durante a ocupação soviética, na ONU, em Washington e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros (1986). No final da carreira foi conselheiro diplomático do presidente Yeltsin.

- Leonid Vadimovich Drachevsky, actualmente é vice-presidente da gigante russa UES (uma das holdings que gere a produção e distribuição de energia hidroeléctrica e nuclear; neste cargo tem desempenhado um importante papel negociações com a China para o fornecimento de energia eléctrica e projectos de instalação de centrais nucleares. É claramente um dos homens de confiança de Putin, que o projectou para altos cargos na administração russa, desde que tomou posse como primeiro-ministro, em 07/05/1999; três semanas depois, Drachevsky foi nomeado ministro para os Assuntos da CEI (Comunidade dos Estados Independentes/Bloco supranacional que agrupa 11 países independentes após o desmembramento da ex-URSS: Arménia, Azerbeijão, Bielorússia, Geórgia, Casaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia, Uzbequistão); Ocupou o cargo durante um ano; A seguir foi nomeado enviado presidencial para o Distrito Federal da Sibéria, até Outubro de 2004, passando depois a ocupar o actual cargo na UES; Leonid Drachevsky é uma personalidade avessa a protagonismos, discretíssimo e, mesmo na Rússia, era relativamente pouco conhecido quando foi, pela primeira vez, nomeado por Putin. “A nomeação mais surpreendente” escreveu na altura o Izvestia, certamente por ser dos poucos “eleitos” para o núcleo duro da governação que não fez carreira nos serviços secretos. Com 65 anos, licenciado em química, serviu o regime soviético nos organismos de topo do desporto russo durante cerca de 25 anos, fechando o ciclo, em 1990-1991, no cargo de vice-presidente da Comissão Estatal para a Cultura Física e Desporto. Depois de várias pós-graduações que foi fazendo ao longo dos anos, na Universidade do Partido Comunista da URSS, enveredou pela carreira diplomática, ocupando diversos postos, intermédios e superiores. Durante sete meses, entre 1998-1999, foi ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros.

- Alexander Livshits, 61 anos, é desde Março do corrente ano Director de Projectos Internacionais da Companhia Reunida RUSAL, gigante russa do alumínio (matéria-prima estratégica para o fabrico de ligas metálicas e componentes estruturais para a indústria aeronáutica e aeroespacial bem como para o fabrico de cilindros hidráulicos); A sua formação académica (economista, com pós-graduação em cibernética), para além de o ter ocupado durante uma boa parte do percurso profissional como estudante, assistente, e professor catedrático de Economia no Instituto de Mecânica de Moscovo (1971-1992), acabaria por o catapultar para a política. Na sequência da dissolução da URSS, foi Director-adjunto do Centro Analítico da Administração Presidencial (1992-1993), chefe da equipa de conselheiros e principal assessor económico do presidente Boris Yeltsin (1994-1996), ministro das Finanças, representante da Federação Russa no FMI (1996-1997); posteriormente foi também representante do presidente russo no Conselho do Banco Central e nas comissões do G8 (1997-2000). Com a chegada de Putin ao poder, assumiu a presidência do Banco de Crédito Russo. Entrou para a holding estatal do alumínio em 2000, e é presidente do Conselho de Supervisão do Soyus Bank. Na fase de transição Yeltsin/Putin destacou-se pelas suas posições críticas face aos Estados Unidos e às tentativas de Washington para isolar economicamente a Rússia. É um firme apoiante de Putin na política de repressão militar dos movimentos independentistas chechenos.

- Mikhail Alexeyevich Moiseyev, 68 anos, foi Chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho (1988-1991); nasceu no extremo oriente da URSS (Amur Oblast) e frequentou a Academia de Estudos Superiores Militares de Blagoveshchensk, e ingressou nas forças armadas soviéticas em 1961 (unidade de carros de combate blindados). Entre 1969-1972, frequentou um curso de Altos Comandos, na Academia Militar de Frunze, uma das mais reputadas do país na formação de generais e patentes similares, chegando rapidamente ao posto de major-general, na segunda metade da década de 70. Em 1982, foi graduado com a medalha de ouro, pela Academia Militar para oficiais generais do Estado-maior do Exército. Durante os anos 80 comandou tropas no distrito militar federal do extremo oriente, Comandante-geral do exército, cargo do qual foi demitido, em 1991, devido ao seu apoio à insurreição militar que tentou derrubar o presidente Mikahil Gorbachev. Em 1992, foi consultor militar do Soviete Supremo da Rússia, após o que passou à reserva. Fundou um partido político – União – sob o lema “Lei, Ordem, Estado de Direito.” Putin, após vencer as eleições, nomeou-o membro da comissão governamental encarregada de tratar das questões relacionadas com a segurança social dos militares.

Estes são “homens do presidente”. Desfrutam de grande poder e de influência política. Mas, outros, que ocupam cargos de alta direcção em gigantescos conglomerados russos – defesa, energia, banca e seguros, telecomunicações, transportes e media – para além das cartas políticas, têm um colete adicional à prova de bala – o imenso peso económico das empresas estratégicas que dirigem e que rapidamente sobem na escala das “galácticas” equipas da globalização.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Putin e o renascimento da Rússia como superpotência global e novas alianças estratégicas


Enquanto o mundo ocidental anda entretido e distraído com o tumor maligno que corrói as entranhas do sistema financeiro global, provocado pela crise dos mercados de derivativos de crédito, o Presidente russo Vladimir Putin, antes de abandonar o cargo, em 2008, mostra um profundo empenhamento em deixar como herança ao seu sucessor, uma nova Rússia: rica, armada até aos dentes e poderosa para fazer frente a quaisquer ameaças externas.

Qual Fénix, renascida das cinzas, a Rússia de Putin volta a ser uma superpotência global com uma agenda geopolítica própria e um renovado e sofisticado complexo industrial-militar para pôr em sentido os EUA e a NATO.


1. Retoma das acções militares estratégicas do Pólo Norte ao Oceano Pacífico, da Europa ao Sul do continente africano.

O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou hoje (17/08) a decisão de retomar de forma "permanente" os voos estratégicos russos a zonas patrulhadas pelos Estados Unidos e pela NATO, suspensos desde 1992. "Decidi retomar os voos da aviação estratégica russa de forma permanente", revelou Putin às agências de notícias russas em Tcheliabinsk, numa base militar situada nos Urais.O presidente informou que, horas antes, 14 bombardeiros, aviões de escolta e aviões-tanque descolaram de vários pontos do país para "patrulhar" os céus dos Oceanos Atlântico e Pacífico, do Mar Negro e do Pólo Norte devendo, em apenas um dia, cumprir missões de 400 horas de voo. As aeronaves, equipadas com armas nucleares, têm um raio de acção superior a 10.000 km. "Esperamos que nossos parceiros [do Ocidente] mostrem compreensão perante o reinício dos vôos da aviação estratégica russa. (...) essas operações serão realizadas [a partir de hoje] de maneira regular e terão um carácter estratégico", enfatizou o presidente russo.

Dezenas de bombardeiros russos começaram patrulhas de longo curso no início do mês e sobrevoaram instalações militares americanas em locais que já não visitavam desde 1992, com destaque para a base de Guam, no Pacífico Ocidental, revelaram a agência RIA Novosti e o jornal Pravda, em despachos emanados de Moscovo. Fontes militares russas, citadas por ambos, informaram que a aviação russa foi seguida e vigiada por caças da NATO.

A retoma dos voos regulares de bombardeiros estratégicos russos é interpretada por alguns media moscovitas como uma demonstração da determinação de Putin de recuperar a presença permanente da aviação russa no Atlântico, no Pacífico e no Ártico. Mais cautelosos, os especialistas russos em questões militares, sublinharam repetidamente que as novas decisões geopolíticas e militares do Kremlin nada têm a ver com um recuo aos tempos da guerra fria, nem significam a escalada de tensões militares com os EUA e a Europa, corporizadas na NATO.

No mesmo sentido se manifestou Vladimir Putin, hoje, quando participou com os seus homólogos da China e da Ásia Central, no último dia dos exercícios militares antiterroristas da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), os maiores realizados até agora por este bloco geoestratégico emergente, fundado em 2001, por iniciativa de Pequim e de Moscovo. O presidente recordou que os voos estratégicos da Força Aérea russa foram "unilateralmente" suspensos em 1992, por Moscovo, lamentando que tal decisão não tenha sido seguida por outros países. "Isso criou problemas adicionais para a segurança da Rússia" - disse Putin. "Por isso - continuou - tomámos agora a decisão de reactivar as missões da nossa aviação estratégica", esclarecendo que se enquadram no treino e formação das respectivas tripulações.

Porém, já no princípio do mês, o comandante da armada russa, almirante Vladimir Massorin, havia anunciado também que acções da "Marinha de Guerra da Rússia, no Mediterrâneo devem ser restabelecidas de forma permanente" negando igualmente que tais actividades estejam programadas para igualar os níveis verificados antes do desmembramento da URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - em 1991.

Estas decisões estão sintonizadas com a acelerada modernização das infra-estruturas do complexo industrial-militar russo e são realizadas através da apresentação de um sofisticado arsenal militar táctico e estratégico, envolvendo novas gerações de caças e bombardeiros, submarinos nucleares e sistemas antimíssil. Neste processo, a componente estratégica da Força Aérea russa vai brevemente ser equipada com o primeiro avião supersónico modelo Tu-160 (Black Jack, no jargão militar da NATO), preparado para carregar 12 mísseis cruzeiro, com ogivas nucleares ou convencionais, e cerca de 40 toneladas de bombas. O Tu-160 é o maior bombardeiro quadrimotor do mundo, com uma tripulação de apenas quatro especialistas, uma autonomia de vôo de 14.600 km, atingindo a altitude de 18.000 metros à velocidade de 2.230 km/h.

"Essa é uma decisão que eles tomaram; é interessante", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, em Washington, num curioso comentário ao anúncio do presidente Putin sobre o reinício daquelas missões após 15 anos de abstinência...


2. O programa de defesa antiaérea 2007-2015 e a nova dimensão dos interesses geoestratégicos russos


Recorde-se que há uma semana, Vladimir Putin, fez o anúncio do ambicioso programa estratégico de defesa antiaérea, durante uma visita à estação de radar Voronev, na periferia da sua cidade natal, São Petersburgo (ex-Leningrado) que deverá ser completado, o mais tardar, em 2015. O Presidente russo, certamente não por acaso, escolheu a sua terra para dar "o primeiro passo de um programa de defesa antiaérea que será posto em funcionamento antes de 2015. Isto [o radar ] é o que eu chamo de inovação das Forças Armadas. Muito mais barato, eficaz e fiável", disse. Voronev, situada na localidade de Lekhtushi, a 50 km de São Petersburgo, tem capacidade para vigiar e fiscalizar uma área que se estende do Pólo Norte até ao sul do continente africano. Em Armavir, encontra-se em fase de construção uma estação de radar idêntica, que expandirá ainda mais as capacidades geoestratégicas do "big brother" russo. Na ocasião, Putin criticou duramente os planos americanos de instalar uma estação de radar na República Checa e outra de intercepção de sinais de satélites-espiões dos EUA, na Polónia, interpretado pela Rússia não apenas como uma provocação mas antes como uma "ameaça directa" à segurança do "gigante gelado". Numa reacção contidamente irada , em Julho, o chefe do Kremlin, por decreto, suspendeu a aplicação do tratado sobre Forças Convencionais na Europa (CFE), até agora visto como o ex-libris dos arquitectos da segurança europeia. A firmeza da atitude russa surpreendeu alguns círculos políticos e militares europeus e americanos. Pelos vistos o golpe do judoca Putin atirou o adversário americano ao tapete.

Na semana passada, o secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos, Daniel Fried, pela primeira vez, defendeu a ideia de um único escudo antimíssil na Europa, que integraria instalações americanas, russas e da NATO, segundo a agência EFE. "A melhor variante seria criar um só sistema coordenado e transparente a fim de reforçar a segurança de todas as partes", disse Fried à televisão do Azerbeijão, país que na altura visitava. George Bush e o vice-presidente americano, Dick Cheney, o falcão neoconservador, nunca aceitaram publicamente as ofertas russas para que os EUA, em lugar da instalação unilateral de bases próprias, contra o desejo de aliados importantes da NATO como a Alemanha, aceitassem a exploração conjunta daquele tipo de infra-estruturas por russos, europeus e americanos.

As declarações de Fried foram interpretadas por diversos observadores das relações americano-soviéticas como um recuo de Washington, que denota a incapacidade dos falcões americanos para a escalada de mais tensões militares, após as fracassadas e sangrentas aventuras no Afeganistão e no Iraque. O subsecretário americano revelou que o tema será abordado em profundidade no decorrer das próximas negociações EUA-Rússia, em Setembro, entre os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa dos dois países.


3. Rússia, China e Irão: uma parceria geoestratégica que acentua o plano inclinado do Império anglo-americano


Na cimeira da SCO, em Bishkek, no Quirguistão, com as manobras militares conjuntas nos Urais, a Rússia, a China e o Irão consolidaram a sua estratégia de criação de uma frente unida para diminuir gradualmente a omnipotente e omnipresente influência global dos Estados Unidos, desde a queda do Muro de Berlim e da implosão do Império Soviético. A SCO foi criada em 2001 pela Rússia, China, Quirguistão, Cazaquistão, Uzbequistão e Tadjiquistão alegadamente para combater o terrorismo e o separatismo. Hoje é claro que se tratou, no estrito plano geoestratégico, de uma inteligente e preminotória manobra de Moscovo e de Pequim contra os riscos que despontavam nas suas zonas de influência. Um inimigo comum era na altura bem visível - o extremismo islâmico e a al Qaeda. Mas obviamente que a militarização da política mundial e o belicismo americano na ressaca do 11 de Setembro eram igualmente ameaças reais, a prazo, para os dois ex-adversários comunistas enfrentando fases diferentes mas aceleradas de reajustamento a modelos económicos internos de inspiração capitalista.

A administração Bush/Cheney, gulosa e ávida de domínio sobre os imensos e ineficientemente explorados recursos petrolíferos do Médio Oriente e da Eurásia, cometeu o erro de afrontar o Irão - velho aliado de Moscovo e de Pequim - com ameaças claras à sua soberania através de uma programada, mas até agora não executada, ocupação da velha raínha do Golfo - a Pérsia. Para justificar uma eventual agressão contra o estado xiíta, Washington catalogou-o como inimigo "do mundo civilizado" por, alegadamente, apoiar os terroristas da Jihad islâmica. Esta acusação é tão verdadeira quanto a existência de Armas de Destruição Maciça no Iraque...
Para além de não conseguirem suster os planos iranianos de desenvolvimento de infra-estruturas para a produção de energia nuclear (e eventualmente de armas atómicas), com tecnologia e matérias primas russas, os Estados Unidos acabaram por dar maior protagonismo regional ao "eixo do mal" iraniano. Para tanto muito contribuiu a fracassada guerra israelo-palestiniano-libanesa, do Verão passado. Apesar da amoral (re) destruição de um país - o Líbano - na tentativa de jugular a força militar do Hezbollah, a facção xiíta libanesa, apoiada financeira e militarmente por Teerão, o certo é que nem o Pentágono nem o exército israelita (apoiado na sombra pela Mossad) conseguiram atingir o anunciado objectivo militar.

O estreitamento das ligações do Irão à Rússia e à China, grande consumidora do crude iraniano, a partir de então, tornou-se inevitável e, até, natural. Assim, embora o Irão tenha apenas o estatuto de observador, a sua participação, através do presidente Mahmud Ahmadinejad, na cimeira de Bishkek, reforçou a SCO e acentuou a emergência de um contrapoder mais eficaz para aniquilar os desígnios americanos numa extensa região do planeta (Golfo Pérsico, Eurásia e Ásia-Pacífico).

Os seis países membros, obviamente, negam que a SCO seja uma aliança antiocidental. Mas é evidente que querem sacudir a influência americana dos seus territórios. Inteligentemente, Ahmadinejad usou a sensível questão do escudo antimíssil americano na Europa ocidental para a retratar como uma ameaça global que transborda a Rússia e as fronteiras do Velho Continente.

Os próprios políticos e militares americanos encarregaram-se de fornecer os argumentos que mais interessavam a Ahmadinejad, ao justificaram a decisão como uma "medida preventiva" para criar uma linha de defesa espacial contra uma eventual agressão do Irão. Para a Rússia as ameaças eram evidentes. Porém, para a China, geograficamente distante da controvérsia, era menos evidente. Habilmente, Ahmadinejad argumentou que os planos americanos eram uma "ameaça" para "toda a Ásia"."Este plano ultrapassa a ameaça contra apenas um país. Afecta a maior parte do continente, toda a Ásia", declarou o presidente iraniano preparando o caminho para que Pequim se sentisse igualmente como parte interessada na "prevenção e solução" do problema.

Por esta razão, as recém-terminadas conversações de Bishkek ganharam uma nova dimensão tendo como pano de fundo a expansão da influência da NATO e dos EUA na Eurásia, região estratégica para o abastecimento de petróleo e gás natural, parte dos quais, russos e chineses consideram ser seu património natural. "Em grande parte é a vontade de criar uma alternativa aos planos americanos de dominação", confirmou o professor de Ciências Políticas Alexandre Kniazev, citado pela agência France-Press.

A SCO pode negar justificadamente as suas intenções de criar uma frente antiocidental, mas os presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Hu Jintao (China), de braço dado com Mahmud Ahmadinejad (Irão), estão claramente empenhados numa aliança estratégica anti-Washington, independentemente de quem ocupe a Casa Branca. Os interesses americanos são claramente contrários, senão mesmo inimigos, desta trindade euroasiática. A estratégia unilateral, belicista e predadora dos EUA semeou ventos. Agora colhe as tempestades.

Putin, durante uma deslocação à Alemanha, no início do ano, referiu-se aos EUA com a venenosa metáfora "o lobo come só, e não escuta ninguém". Agora em Bishkeh, retomou o registo: "Estamos convencidos que qualquer tentativa de resolver sozinho os problemas mundiais e regionais é inútil", sublinhou o Presidente russo, numa clara alusão ao bushviquismo americano.

Com o adequado significado, as manobras militares da SCO, em territórios russo e chinês, envolvendo 6.500 homens num exercício antiterrorista, são o sinal adequado às práticas geopolíticas anglo-americanas nos vários cenários geopolíticos onde operam, militar ou diplomaticamente. No Ocidente os exercícios foram interpretados como treinos para acções violentas de repressão contra manifestações étnicas ou civis na Eurásia. Tal impressão foi acentuada quando o jornal russo Kommersant, citando fontes militares, assegurou que as manobras tinham como modelo a violenta repressão da rebelião antigovernamental, em 2005, em Andijon (Uzbequistão). Os países da SCO, segundo os especialistas, não distinguem o combate ao terrorismo da repressão a distúrbios populares. O Pentágono, recorde-se foi obrigado, em 2005, a retirar a sua base militar do Uzbequistão após ter criticado a repressão de Andijon.

Cinicamente, a Rússia e a China descrevem a missão da SCO como um instrumento político-militar de estabilização do volátil clima geopolítico na região euroasiática, onde ambos querem repartir a hegemonia. Uma coisa é acolherem com aparente indiferença a presença das multinacionais americanas McDonald's, Starbucks e Kentucky Fried Chicken nas suas cosmopolitas cidades como Moscovo, São Petersburgo, Pequim ou Xangai. Outra, bem diferente, é terem como condóminos as gigantes e gulosas Halliburton, Bechtel, Chevron ou similares. Aí fia mais fino...