segunda-feira, julho 02, 2007

Colômbia/CIA: A verdade sobre a operação “Triplo A” (Parte I)

Documentos da CIA, recentemente abertos para consulta pública, envolvem directamente o actual líder do Exército da Colômbia, general Mario Montoya Uribe, e conselheiro do presidente colombiano em exercício, Álvaro Uribe, em operações de grupos paramilitares, alegadamente anticomunistas, que executaram acções terroristas, desde a década de 70 até ao presente, naquele país latino americano.
Um telegrama da embaixada dos EUA, em Bogotá, de 1979, claramente informa que Montoya Uribe, clandestinamente, criou, treinou e armou uma organização terrorista – Aliança Anticomunista Americana/AAA (Triplo A) – responsável nos anos seguintes por um largo conjunto de crimes: atentados bombistas, raptos e assassínios contra alegadas organizações esquerdistas colombianas.
O então embaixador americano no El Dorado da Cocaína, Diego Asencio, constatou e informou o Departamento de Estado que “altos comandos militares colombianos” autorizaram directamente as operações terroristas dos paramilitares da AAA, com o envolvimento dos serviços secretos militares do país. O objectivo, segundo o então comandante do exército General Jorge Robledo Pulido, consistia “em criar a impressão de que a Aliança Anticomunista Americana se estabeleceu na Colômbia para iniciar acções violentas contra os comunistas locais.”
O general Montoya participou activamente na criação da AAA, de acordo com denúncias feitas por cinco antigos membros do batalhão, em 1980, ao jornal mexicano El Dia, acusando o então tenente Mario Montoya como o responsável máximo pelo atentado bombista contra o jornal do Partido Comunista da Colômbia Voz Proletaria.
Durante muitos anos o governo americano e as suas diversas agências secretas – da CIA à DIA (secreta militar americana) não apenas fizeram vista grossa como mentiram aos poderes executivo e legislativo, e ao povo que os elegeu. Em 1999 a DIA – Defense Intelligence Agency – classificaram as denúncias e acusações feitas contra Montoya, por uma organização de defesa dos direitos humanos, a Pax Christi International – que incluíam a destruição com explosivos de centros de comunicações, ameaças de morte, assassínios e outras acções criminosas contra alegados adversários políticos e presumíveis simpatizantes da guerrilha pró-comunista – como uma mera “campanha caluniosa de uma ONG [Organização Não Governamental] que já dura há 20 anos.” Refira-se que naquela altura, Montoya estava prestes a ser nomeado para o cargo de supremo comandante militar do Exército da Colômbia.
A atitude de branqueamento por parte das autoridades americanas das actividades criminosas e clandestinas de Montoya foi posta à prova, em Março passado, através de um artigo publicado pelo diário Los Angeles Times (EUA, Califórnia), que divulgou parte de um relatório da CIA, segundo o qual o general se envolveu directamente numa operação conjunta – Orion – com outro grupo paramilitar terrorista de Medellín, em 2002-2003, para o desmembramento de redes locais de guerrilha urbana. A CIA referia expressamente que a “informação foi fornecida por uma fonte segura”, de acordo com comentários do adido militar americano incluídos no documento. A Operação Orion saldou-se em, pelo menos, 14 mortos e dezenas de desaparecidos.
O senador democrata americano Patrick Leahy, presidente da sub-comissão do Senado que fiscaliza a ajuda à Colômbia, não teve outra solução – bloqueou o envio de 55 milhões de dólares de ajuda às forças de segurança da Colômbia. Leahy prometeu que agora “não haverá mais branqueamento como no Congresso anterior” pois “não queremos que a nossa ajuda vá parar às mãos de alguém ligado aos paramilitares” colombianos.
Por seu turno, há poucas semanas, o Congresso dos EUA, agora também com maioria democrata, apertou ainda mais o cerco ao reduzir substancialmente a ajuda militar ao maior produtor de cocaína do mundo, com a exigência de que o governo colombiano combata eficazmente os grupos terroristas, quaisquer que sejam as suas alegadas orientações políticas.
Montoya e seus sequazes têm um sangrento currículo nas respectivas carreiras militares. Em Março passado, a descoberta de uma vala comum na região administrativa de Putamayo suscita ainda mais suspeitas sobre as obscuras actividades do general e conselheiro presidencial como comandante da Força Especial Conjunta do Sul, unidade financiado com dinheiro dos contribuintes americanos e encarregada de alegadamente coordenar as operações contra o narcotráfico e antiguerrilha naquela região, entre 1999 e 2001. Os investigadores calculam que mais de 100 indivíduos foram assassinados pela violência paramilitar enquanto Montoya liderou aquela unidade de tropas especiais.
Fonte: Revista Semana (espanhol)
Brevemente: (Parte II)

Arquivo do blogue