segunda-feira, julho 02, 2007

América Latina: Mais uma alternativa de fonte energética para a China

OPINIÃO
Autor: CEBC
30/06/2007, in Fator Brasil

Não são apenas os produtos agrícolas extensivos em terra (como a soja) e os metais e minerais que atiçam o apetite chinês por matérias-primas na América Latina. Cada vez mais, graças à competição global por recursos energéticos e devido à necessidade chinesa de garantir fontes seguras de petróleo, o país tem buscado alternativas muito além dos seus vizinhos asiáticos e do Oriente Médio.
Além da África, mais recentemente também a América Latina passou a figurar entre essas novas opções. Atualmente, 40% das importações chinesas de petróleo ainda vêm do Oriente Médio, o que é um quadro estrategicamente instável se considerarmos a competição acirrada na região e a presença norte-americana já consolidada.
Desde 1993, a China tornou-se um importador líquido de petróleo, e a demanda energética continua crescendo em proporção muito maior do que sua produção. Em 2005, a produção foi de 3,6 milhões barris/dia, apenas pouco acima dos 2,8 milhões barris/ dia produzidos em 1990. Já o consumo em 2005 foi de 6,9 milhões barris/dia, o que representa aumento de 100% em relação a 1990.
A Administração de Informação Energética dos Estados Unidos estima que o consumo chinês atingirá 15 milhões barris/dia em 2030, ao passo que a produção continuará em 4,2 milhões barris/dia. A exacerbada demanda chinesa, portanto, exige que o país encontre novas fontes e novos fornecedores. Não é por acaso que companhias chinesas estão buscando parceiros em países não-tradicionais e muitas vezes politicamente instáveis, como Angola, Irã e Arábia Saudita.
É sob este pano de fundo que a América Latina entra na esfera de interesses chinesa. Em novembro de 2004, o presidente Hu Jintao realizou a maior visita à região já feita por um chefe de Estado chinês. Nas questões energéticas, a visita resultou em acordos sobre participações em petrolíferas, joint-ventures com estatais e investimentos em infra-estrutura, especificamente transporte, gasodutos e refinarias.
Entre os primeiros negócios da China National Petroleum Corp. (CNPC) na região está a compra de 45% da companhia de capital argentino PlusPetrol Norte, localizada no Peru, por US$ 200 milhões, em fevereiro de 2004. A PlusPetrol Norte é a principal produtora de petróleo do Peru, com produção de aproximadamente 17,8 milhões de barris/dia.
Já em setembro de 2005, a CNPC e a Sinopec uniram-se no consórcio Andes Petroleum para a compra dos ativos equatorianos da petrolífera Encana, no valor de US$ 1,42 bilhão. O consórcio também adquiriu 36% das ações da equatoriana Oleoducto de Crudos Pesados. Um ano depois, a Sinopec firmou acordo com a indiana ONGC Videsh para a compra de 50% da petrolífera Colombia Ominex, subsidiária colombiana da norte-americana Ominex Resources, no total de US$ 850 milhões. Apesar de os investimentos serem relativamente pequenos, eles representam grande oportunidade para as petrolíferas chinesas ganharem influência na região, com potencial de mais investimento no futuro.
A CNPC e a Sinopec também obtiveram êxito em acordos com petrolíferas estatais, a exemplo da Petrobras. Em 2004, a estatal brasileira assinou acordo de cooperação com a Sinopec para exploração, produção, refino, venda de petroquímicos e construção de gasodutos em conjunto. O acordo envolve assistência técnica chinesa na recuperação de campos de petróleo maduros, ao passo que o Brasil proverá assistência na perfuração em águas profundas no Mar da China.
Foi assinado também um Memorando de Entendimento entre a Sinopec e a Petrobras para a construção de um gasoduto de US$ 1,3 bilhão que ligará o nordeste e o sudeste do Brasil, o Gasene (Gasoduto de Interligação Sudeste–Nordeste). O Gasene futuramente poderá ser conectado ao Gasur (Gasoducto del Sur, que propõe ligar Venezuela, Brasil e Argentina). O envolvimento no Gasur é importante para a China, em especial se o país de fato quiser diversificar suas fontes energéticas na América Latina em favor do gás natural. Além disso, o gasoduto Brasil-Bolívia e o proposto gasoduto Bolívia-Argentina também irão ligar-se ao Gasur, permitindo o acesso às reservas de gás natural da Bolívia.
Na Venezuela, a CNPC assinou um acordo de US$ 350 milhões para investir em 15 campos petrolíferos na província de Anzoategui, e mais US$ 60 milhões em projetos de gás natural. A CNPC também firmou uma joint-venture com a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) para desenvolver campos na bacia do rio Orinoco.
A China tende a estabelecer-se como um parceiro estratégico da Venezuela não só em função das enormes reservas de petróleo deste país, mas fundamentalmente graças à tentativa venezuelana de reduzir sua dependência comercial com relação aos Estados Unidos. Além dos US$ 1,5 bilhão já investido, a joint-venture com a PDVSA prevê novos investimentos da ordem de US$ 3 ou 4 bilhões. Se tais volumes forem confirmados, a PDVSA poderá se tornar a maior receptora de investimentos chineses da América Latina.
Apesar de promissoras, as relações energéticas entre China e América Latina ainda são tímidas. As exportações de petróleo cru da Venezuela para a China representam apenas 2,3% das importações chinesas, bem abaixo dos 18% de Angola, 16% da Arábia Saudita e 12% do Irã. Em parte, a distância explica isso, dado que são necessários 44 dias para que o petróleo venezuelano chegue à China. Mesmo que planos de um oleoduto que corte a Colômbia sejam concretizados, o tempo de transporte será reduzido em aproximadamente 20 dias, o que ainda manterá as fontes de recursos mais próximas mais atrativas.
A China parece não querer tomar atitudes que danifiquem severamente suas relações com competidores corporativos na América Latina – incluindo Chevron (EUA); Royal Dutch Shell (Holanda); ConocPhillips (EUA); ExxonMobil (EUA); ENI (Itália); Statoil (Noruega); Repsol (Espanha); BP e Petrobras. O país asiático mantém parcerias com muitas destas companhias e seria contraproducente para sua estratégia empresarial engajar em práticas excessivamente não-competitivas, mesmo que o país anfitrião permitisse.
Ainda, a América Latina provavelmente permanecerá economicamente dependente dos Estados Unidos por muito tempo. Interpretar a presença chinesa na América Latina como desafio aos interesses econômicos e energéticos dos Estados Unidos é ilusório. Em 2005 a América Latina enviou 47% de suas exportações para os Estados Unidos, 14% para a UE e apenas 4% para a China. Assim, mesmo que a China cumpra suas promessas de investimentos no valor de US$ 100 bilhões até 2010, ainda exercerá consideravelmente menos influência econômica do que os Estados Unidos.
Nota: As opiniões publicadas expressam exclusivamente os pontos de vista do(s) respectivo(s) autor(es).

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