sexta-feira, junho 22, 2007

CIA: Décadas de Sexo Mentiras e Vídeo (Assassínios Mentiras e Escutas) serão revelados na próxima semana

O chefe da CIA, General Michael Hayden, anunciou ontem na convenção anual da Sociedade de Historiadores das Relações Externas Americanas, que termina amanhã em Chantilly, Virgínia, a abertura para consulta pública, a partir da próxima segunda-feira, de um relatório de quase 700 páginas sobre graves (para alguns ainda surpreendentes) actividades ilegais cometidas pela agência estadunidense de serviços secretos e espionagem (Central Intelligence Agency) nos primeiros 25 anos da sua existência (1949-1973).
O dossiê de documentos, classificado como “jóias da família” na altura em que o chefe máximo da CIA era James Schlesinger (1973), inclui provas de violação de correspondência, escutas ilegais, acções de vigilância ilegítima sobre cerca de 10 000 activistas anti-establishment e pacifistas americanos, planos para assassinar alegados inimigos dos EUA, incluindo políticos estrangeiros, bem como experiências científicas ilegais em seres humanos.
Cinicamente, Hayden classificou o relatório como “um breve vislumbre de um tempo muito diferente e de uma agência muito diferente” procurando branquear a violação dos estatutos da CIA e uma lista infindável de crimes políticos – assassínio de Salvador Allende, presidente do Chile (1973) e de outros dirigentes latino-americanos durante as décadas de 50 e 60, a falhada tentativa de invasão de Cuba (1961) etc. – e cobertura de acções ilegais (tráfico de armas e drogas) desde o final da II Guerra Mundial até ao dias de hoje.
Todos os presidentes americanos sem excepção, desde Franklin Delano Roosevelt até ao actual, George W. Bush – com destaque para Truman, Eisenhower, Johnson, Nixon, Carter, Reagan, Bush (pai) e Clinton – ordenaram ou fizeram vista grossa a estas actividades criminosas. Uns republicanos, do GOP - Good Old Party - outros alegadamente democratas e liberais (versão New Deal da Era Roosevelt) do Partido Democrata. Nenhum pode clamar inocência ou ignorância sobre as criminosas, ilegais e corruptas actividades da CIA.
Entre as acções listadas pelo próprio Schlesinger destacam-se, especificamente 18:
1. Detenção de um desertor russo que “pode ser interpretada como uma violação da legislação sobre rapto e sequestro”;
2. Escutas visando dois jornalistas autónomos (freelance), Robert Allen e Paul Scott;
3. Vigilância física do jornalista especializado em escândalos e temas sensacionalistas Jack Anderson e os seus associados, um dos quais é Brit Hume, actual apresentador de noticiários e programas televisivos da globalista e fascizante Fox News (canal de notícias controlado pelo multimilionário americano-australiano Rupert Murdock);
4. Vigilância física executada sobre o repórter do Washington Post, Michael Getler;
5. Violação e arrombamento da residência de um antigo funcionário da CIA;
6. Violação e arrombamento do escritório de um antigo desertor;
7. Busca ilegal no apartamento de um antigo funcionário da CIA;
8. Violação de correspondência postal, entre 1953-1973, de e para a União Soviética;
9. Violação de correspondência postal. entre 1969-1972, de e para a República Popular da China;
10. Experiências de alteraçãodo comportamento em cidadãos americanos "inconscientes ou involuntários";
11. Planos para o assassínio do líder cubano Fidel Castro (falhado, 1961), de Rafael Leónidas Trujillo, ditador da República Dominicana (executado, 1961) e do primeiro-ministro eleito do Congo ex-belga – República Democrática do CongoPatrice Lumumba (executado, 1962);
12. Vigilância de grupos e activistas dissidentes entre 1967-1971;
13. Vigilância de uma cidadã latino-americana e cidadãos dos EUA, em Detroit;
14. Vigilância de Victor Marchetti, um ex-agente e crítico da CIA;
15. Elaboração e catalogação de ficheiros sobre as actividades de cerca de 10 mil americanos envolvidos no movimento pacifista (designadamente opositores da intervenção militar dos EUA no Vietname);
16. Experiências com detectores de mentiras. Uma das cobaias foi um xerife de San Mateo, Califórnia;
17. Produção de documentos de identificação falsos violando as leis estaduais;
18. Testes de equipamentos electrónicos em circuitos telefónicos dos EUA.
Em 1974, o então jornalista do New York Times, Seymour Hersh, foi o primeiro a denunciar estas actividades, num artigo publicado em 22/12/1974, sob o título “Gigantesca Operação da CIA nos Estados Unidos Contra Grupos Pacifistas e Outros Dissidentes na Era Nixon.”
Thomas Blanton, Director do Arquivo de Segurança Nacional, da Universidade de George Washington, em Washington, D.C., afirmou que “esta é a primeira vez que a CIA voluntariamente abre para consulta pública documentos secretos e material controverso desde que em 1998, George Tenet [na altura, director-geral] se negou a cumprir as promessas feitas nos 90 de uma política de maior abertura por parte da Agência”


Fontes: Blog Wired e reprodução de uma notícia da AP