O assunto vem a propósito de milho e de dores intestinas provocadas por uma invasão de propriedade e por confusão gerada com actores já habituais.
A indignação tem razão se legítima e constante e se for genuina, o que não parece ser o caso.
Ser genuino neste sítio tornou-se uma excepção conveniente assim como a indignação deixou de ser um direito para passar a ser um preceito de ocasião, como a que faz o ladrão.
A questão colocada em termos de esquerda e direita perde poder de argumentação.O problema quanto a mim tem a ver com o desafio à autoridade do Estado.A desobediência civil.A pergunta é simples colocada por gente sem princípios, onde as ideias de esquerda e direita deixaram de ter razão de ser. O que perguntam será:Até onde nos deixam ir? Até onde podemos minar a autoridade do Estado?Infelizmente as respostas estiveram à vista: o Estado não existe. Está em regime de outsourcing, utilizando o termo anglosaxónico de fornecimento de bens e serviços, pagos por todos os que pagam impostos. Passo a explicar:As forças policiais e o estado delegou o poder repressivo da pior maneira, não para prevenir o crime ou os desvios através de acções preventivas e repressivas, banalizando as últimas, usando forças de segurança e organismos afins, com funções sobrepostas a forças que ficaram com poder residual, como o caso da ASAE, Brigada Fiscal, Polícia Marítima, Inspecção do Ambiente, Entidades Reguladoras de toda a ordem e muitas outras, que alguns de nós só conhecemos através de acções mediáticas e de marketing, que deixam o mero cidadão a perguntar-se onde está a lei e onde está o outro lado da mesma. Funcionam sem cultura de prevenção, alheias ao estado económico do país, fechando, multando e prendendo, sem a mínima sensibilidade em relação ao futuro económico das respectivas empresas, habitualmente pequenas, familiares ou médias, com vista grossa para os poderosos grupos, com excepções pontuais de faz de conta.Fala-se em Estado em outsourcing, atendendo ao facto que se trabalham à comissão ou à percentagem, reforçam o princípio que o Estado morreu ou que o seu poder está adormecido e daí até à desobediência civil generalizada vai um passo, mesmo e por mais treinos antimotim que recebam as referidas forças.A questão do milho transgénico é um facto de menor importância e as dores revelados por alguns, como o caso da senhora do artigo e outros, é mero folclore político.Preocupa-me por exemplo que se encerre uma pecuária porque tem efectivos a mais e que por isso se mande abater a totalidade dos efectivos, com reproductores incluidos e encerrar a mesma, quando aqui ao lado as autoridades se interrogam muitas vezes antes de tomar decisões deste tipo, duvidando que aconteça alguma vez uma acção deste género. Comparadas com muitas das explorações do país vizinho as do nosso, são estâncias de luxo, medidas ambientais incluídas.È claro que ainda se vão pagando as coimas, os impostos e coisas do género inventados por um Estado híbrido que ainda não compreendeu que o burro quando se habituar a passar fome, morrerá de inanição.O hibridismo é tentar impor políticas neoliberais, como o flexiemprego, os baixos salários, a perda das regalias sociais de muitos, a par das regalias milionárias de muito poucos, a morte da classe média pelos impostos de toda a ordem, pela plutocracia e o agiotismo sem deveres fiscais, a hipocrisia do apoio ao aumento demográfico, através de escalões, aplicados por vesgos de espírito, apoiando melhor e a qualquer preço o aborto como método anticoncepcional, mostrando estatísticas de morte, com números falseados à partida e “en passant”, como se de uma epidemia se tratasse e como se um ser humano por nascer fosse uma ameaça ao bem estar dos que por cá sobrevivem, em nome do secularismo evangélico do politicamente correcto e da revolução permanente de Trostzky, agora numa nova fase: o neoliberalismo imposto a nível global e a democracia parlamentarista a todo o custo, mesmo que exercida por espantalhos ou marionetes, tentando cumprir o consenso de Washington, descrito por um desconhecido chamado Williamson e que afinal descobriu que o FMI, o Banco Mundial, a ONU e outras organizações transnacionais, sediadas em Washington, decidiam o futuro do animal humano, por mais diversas que sejam as seus habitats.Este é um Estado que desafia as leis de Thomas Hobbes e vive no fio da navalha.É um Estado que alimenta as suas forças através das comissões, terços ou sextos da maquia.Não pode fugir e dizer que o último feche a porta, porque actualmente não há por onde fugir, quando for cada um por si. As armadilhas estendidas, se esquecidas são como as minas colocadas sem mapeamento e sem ordem, a pensar que são sempre para outros ou para os filhos deles.Será que o Estado está nas mãos do Rei dos orgulhosos?Acerca do Leviatã de Hobbes:"Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem; "Bellum omnium contra omnes", é a guerra de todos contra todos. Não pensemos que mesmo os homens mais robustos desfrutem tranquilamente as vitórias que sua força lhe assegura. Aquele que possui grande força muscular não está ao abrigo da astúcia do mais fraco. Este último - por maquinação secreta ou a partir de hábeis alianças - sempre é suficientemente forte para vencer o mais forte. Por conseguinte, ao invés de uma desigualdade, é uma espécie de igualdade dos homens no estado natural que faz sua infelicidade. Pois, em definitivo, ninguém está protegido; o estado natural é, para todos, um estado de insegurança e de angústia.Assim sendo, o homem sempre tem medo de ser morto ou escravizado e esse temor, em última instância mais poderoso do que o orgulho, é a paixão que vai dar a palavra à razão. (Essa psicologia da vaidade e do medo é, em Hobbes, uma espécie de laicização da oposição teológica entre o orgulho espiritual e o temor a Deus ou humildade.) É o medo, portanto, que vai obrigar os homens a fundarem um estado social e a autoridade política.Os homens, portanto, vão se encarregar de estabelecer a paz e a segurança. Só haverá paz concretizável se cada um renunciar ao direito absoluto que tem sobre todas as coisas. Isto só será possível se cada um abdicar de seus direitos absolutos em favor de um soberano que, ao herdar os direitos de todos, terá um poder absoluto. Não existe aí a intervenção de uma exigência moral. Simplesmente o medo é maior do que a vaidade e os homens concordam em transmitir todos os seus poderes a um soberano. Quanto a este último, notemo-lo bem, ele é o senhor absoluto desde então, mas não possui o menor compromisso em relação a seus súbditos.