quarta-feira, agosto 01, 2007

Petróleo: Sinais de aviso de novo choque energético que sangrará a economia global e põe à prova a estabilidade mundial

O preço futuro do petróleo em Nova Iorque, para fornecimentos entre 30 a 60 dias atingiu o maior valor da história nesta quarta-feira, após uma queda, maior que a esperada, nas reservas dos EUA - o maior consumidor mundial do produto. O mercado de futuros desta mercadoria estratégica, para carregamentos a efectuar em Setembro, voltou a bater mais um recorde histórico, prenunciando o advento de um novo choque petrolífero, ao subir a fasquia dos USD 78,77 (no final da manhã/hora de Nova Iorque).
Segundo dados fornecidos pela
Commodity Futures Trading Comission, nas semanas anteriores, os especuladores sedeados no mercado de petróleo bruto (crude não refinado) da bolsa nova-iorquina NYMEX - New York Mercantile Exchange - reduziram os preços dos contratos futuros de longo prazo, do recorde histórico de USD 112,287 (10/7/2007) para USD 108,782 (24/07/2007). Os milhões de barris/dia (mbd) disponíveis no mercado estão em contra ciclo com a procura mundial...
A instabilidade política na região do golfo, com incidência particular no Iraque (com o oleoduto para o porto turco de Ceyhan sob permanentes ataques e sabotagens) e níveis de produção actuais (1,5 mbd) inferiores aos atingidos na era de Saddam Hussein (1,7 mbd) são uma pequena parte do problema que põe à prova os nervos e a ansiedade dos traders e especuladores.
Os outros elementos da equação sobre o futuro do abastecimento da energia fóssil, num horizonte de apenas 18 meses, podem alinhar-se interactivamente entre a seguinte correlação de factores reais, ignorando a psicologia reactiva dos mercados e dos seus agentes:
A paz podre entre o Irão e os países ocidentais, com Israel de permeio, com a questão nuclear a servir de justificação politicamente correcta sendo que, de facto, o que está em causa é a alteração da correlação de forças na região do Golfo Pérsico.

  • Um volume de armamento americano "state-of-the-art" no valor de 60 a 70 mil milhões de dólares para Israel (com cerca de 50% garantidos) e o restante para distribuir pelos "aliados árabes moderados" de Washington, Londres e Telavive (Arábia Saudita, sultanatos e emiratos vizinhos e Egipto) potenciam as especulações para a eclosão de novos conflitos;
  • Normalmente as corridas aos armamentos e a proliferação de armas nucleares em zonas geopoliticamente sensíveis são os melhores detonadores para a implosão dos mercados na razão directa da imprevisibilidade dos riscos associados;
  • A debilitada economia petrolífera nigeriana, sob ataque continuado de forças rebeldes ao regime no poder enfrenta a realidade de uma situação interna à beira da ruptura social e, em face disso, provocou uma redução de quase 1/5 da produção total de crude da África Ocidental para o mercado mundial;
  • A tenaz e calculista política de redução da oferta de crude/dia pelos países membros do cartel da OPEP, que consideram adequada a quantidade de crude com que actualmente abastece o mercado...
  • Com uma quebra estimada de produção superior 800 mbd, desde Fevereiro, a OPEP deliberadamente provocou uma significativa redução de milhões de barris que diariamente inundavam o mercado, numa altura em que a procura dos EUA, Europa, China e Índia não pára de aumentar;
  • A escalada da tensão/pressão sobre o abastecimento aumenta para níveis tais que, inevitavelmente, mais mês menos mês, os preços dispararão velozmente para barreiras que, muitos analistas, estimam possam vir a colocar, em 2009, o crude a um preço estabilizado entre os 120 e os 150 dólares o barril...
  • Se a tudo isto isto juntarmos um vector de longo prazo – o preocupante défice de refinarias com as unidades de cracking adequadas aos diversos tipos de hidrocarbonetos disponíveis em cada momento nos mercados – não será difícil concluir que caminhamos para uma situação de ruptura e de mudança de paradigma, em termos geopolíticos e energéticos.

O actual périplo de destacados membros da administração Bush/Cheney – o chefe do Pentágono, Mr. Robert Gates, e a chefe da diplomacia estadunidense, Ms. Condoleezza Rice, são indicadores de que algo de importante e, provavelmente inesperado, irá ter lugar no Médio Oriente num futuro talvez não tão longínquo quanto muitos podem julgar.
Não estamos a falar de visitas de cortesia. Os temas são alta política e negócios gigantescos. A agenda extravasa de questões sensíveis nos planos militar, da segurança regional, e da contagem de espingardas, leia-se de mísseis teleguiados de alta precisão (ainda por demonstrar eficazmente no terreno...) e de outras preciosidades produzidas pelo americano CIM – Complexo Industrial-Militar.
O jornal alemão Berliner Morgenpost noticiou há pouco que Israel, a Arábia Saudita e o Egipto estariam dispostos para atenderem, com pompa e circunstância, a mais uma daquelas conferências internacionais de paz sobre o Médio Oriente/Golfo Pérsico que, o passado assim nos ensina, muitas vezes são a antecâmara de guerras cada vez mais assimétricas.
Os próximos movimentos no intrincado e complexo xadrez israelo-árabe jogam-se em vários tabuleiros. De Washington a Telavive, passando por Riade e pelo Cairo...
As cenas dos próximos capítulos desta novela interminável e sangrenta, virão a público, apropriadamente esterilizadas, para proteger os costumeiros "interesses nacionais" da cada dia menos poderosa e influente superpotência mundial: os Estados Unidos.