“Ironicamente, é um lugar comum insistir que as teorias da guerra-sobrevivência afrontam o teste crucial do que é política e moralmente correcto ou aceitável. Seguramente ninguém pode sentir-se confortável com a afirmação de que uma estratégia que mataria milhões de cidadãos soviéticos, e que iria desencadear uma resposta estratégica da qual poderia resultar a morte de dezenas de milhões de cidadãos americanos, seria política e moralmente aceitável. Porém, valerá a pena trazer à colação os seis princípios para o uso da força, assentes na doutrina da “guerra justa”, defendida pela Igreja Católica.
- A força pode ser usada para defender uma causa justa;
- Com uma boa intenção;
- Com uma razoável possibilidade de sucesso;
- Na perspectiva de que, caso seja bem sucedida, o seu uso oferece um futuro melhor do que aquele que resultaria de não ter sido usada;
- Num grau proporcional aos objectivos desejados, ou para que seja combatido o mal;
- E com a determinação de poupar os não combatentes, quando existir uma possibilidade razoável de o fazer.
Estes princípios são uma mensagem para a política dos Estados Unidos. Especificamente, enquanto a ameaça nuclear faz parte do arsenal diplomático estadunidense e desde que a ameaça reflicta reais intenções operacionais, e não seja uma completa simulação ou mero fingimento. Os estrategistas militares dos EUA estão obrigados a ponderar o cenário provável de uma guerra nuclear.”
Colin S. Gray e Keith Payne
in “Under the Nuclear Gun (I) – VICTORY IS POSSIBLE”, 1980, “Foreign Policy”, p.p. 16,17
P.S.: Keith Payne, até Junho de 2003, ocupou na administração Bush/Cheney o cargo de sub-secretário de estado da defesa, com os pelouros das forças armadas e das políticas correlativas. No seio do Pentágono, ele era o privilegiado paisano profundamente envolvido no estudo e planeamento estratégico de questões tão sensíveis como a dissuasão, ou o desenvolvimento e utilização do arsenal nuclear do país. Como se depreende da tese acima reproduzida, Payne é um burocrata do Complexo Militar-Industrial dos Estados Unidos da América que acredita piamente na eficácia do armamento nuclear e na possibilidade de o país vencer uma guerra com armas de destruição maciça... A sua passagem pelo Pentágono seguramente influenciou a actual politica de defesa estadunidense, cujos responsáveis não apenas admitem a possibilidade de um conflito nuclear como estão, freneticamente, a desenvolver novas armas atómicas e a expandir a infra-estrutura industrial que as produz.