sexta-feira, agosto 24, 2007

Operação Estrela Vermelha: Aplacar a ira de Putin e amansar os falcões





1. Kissinger e Putin, discretamente em Moscovo…


Henry Alfred Kissinger, antigo Conselheiro Nacional de Segurança e Secretário do Departamento de Estado nas administrações Nixon e Ford (1969-1977), foi o primus inter pares, no passado dia 13 de Julho, durante uma super discreta reunião de trabalho com o Presidente Putin, na sua residência oficial, em Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscovo.
O importante conclave visou apaziguar as recentes tensões político-militares entre a Casa Branca e o Kremlin, provocadas pelos falcões americanos sob o comando do poderoso e imprevisível vice-presidente, Dick Cheney. Os neoconservadores insistem em pressionar alguns aliados da NATO (Polónia e Checoslováquia, por exemplo) a aceitarem nos seus territórios a instalação de novas bases militares e um enigmático conjunto de inovadoras armas nucleares, na serventia das fronteiras russas. O n.º 1 da renovada potência global que é a Rússia actual não escondeu a sua irritação. Menos ainda, o sonoro ranger de dentes.
Kisssinger, fundador e presidente da Kissinger Associates, Inc., uma empresa global de consultadoria em geopolítica e globalização, afirmou em Moscovo, em Abril passado, que George W. Bush e a chefe da diplomacia, Condoleezza Rice, teriam aprovado a ideia da criação de um grupo de trabalho – bilateral, informal e semi-secreto – para abordar as questões geoestratégicas, numa base de reciprocidade e interesse mútuo. O “realpolitiker” estadunidense enfatizou que ambos apelaram à comunidade internacional para que tratem a Rússia como um parceiro entre iguais, no propósito de satisfazer os desejos do presidente russo. Registe-se que as visitas de Kissinger a Moscovo, sempre discretas e quase nunca noticiadas pelos grandes conglomerados mediáticos mundiais, têm sido mais frequentes do que muitos poderiam pensar, desde que Putin ascendeu ao poder, em 2000.

2: Os “Big Bosses” mostram cartão amarelo a Bush & Cia.


No entanto, parece óbvio que, se alguém fica mal neste retrato, Bush, Cheney e Rice lideram o pelotão. Os três têm criticado, sistemática e publicamente, as posições de Putin e do líder chinês Hu Jintao, no que respeita aos projectos nucleares do Irão e da Coreia do Norte. Esta última questão parece resolvida, mas apenas porque a China assim o quis. A outra é um assunto que o “Grupo de Trabalho Estratégico” russo-americano tem agendado para resolver, por via diplomática, provavelmente em 2008, quando Bush deixar a Casa Branca, e independentemente de quem lhe irá suceder. Será assim tão simples? (interrogam-se os menos crédulos)…
A resposta é afirmativa. Por detrás das movimentações do antigo chefe do Departamento de Estado, convergem os interesses de três dos mais influentes centros do poder real global: (Bilderberg Group (BG), Trilateral Commission (TC) e o Council on Foreign Relations (CFR).
Estas organizações elitistas que só admitem membros por convite, e após apertados critérios de selecção, são prodigamente influenciadas por clãs anglo-americanos e por poderosas famílias europeias com interesses, igualmente estratégicos, no diálogo transatlântico. As monarquias inglesa, holandesa e espanhola, os herdeiros das famílias que dominam os mercados financeiros globais e indústrias estratégicas - defesa, energia, agro-alimentar, transportes e media.
O número é pequeno. Incluiu os Estados Unidos protestante (Rockefeller, Forbes, Ford, Kennedy, Adams, Cabot, Delano, Taft, Getty, Guggenheim, etc.) e a Europa judaico-cristã (Rothschild, Oppenheimer, Camondo, Warburg, Lehman, Goldman, Sachs, Schiff, Krupp, Thyssen, Flick, Bertelsmann, Cohen, Abraham, Solomon, Asper, Koplowitz, Agnelli, etc., etc. Directa, ou indirectamente, estas famílias controlam centenas de conglomerados fornecedores de produtos e serviços para o Complexo Industrial-Militar (CIM) e para as Administrações Públicas dos respectivos países. Todos estão activamente alinhados nesta tentativa de restabelecimento de um clima internacional semelhante ao vivido durante a guerra-fria. Mais estável e previsível.
Porém, menos de oito anos passados sobre o início do presente século, algumas regras do jogo já mudaram, ou para lá caminham aceleradamente, e novos poderes emergentes têm que participar no processo. A exclusão é insustentável. Inclusão é a única opção disponível (ou o mal menor). Quer isto dizer que o número de comensais nos jantares de gala, vai aumentar. Nas mesas um facto raro, senão, inédito: as fisionomias dos convidados, antes exclusivamente caucasianas, são agora, também, exóticas e coloridas. Sinal dos tempos. Elas espelham a inexorável transferência dos centros de poder, sócio-político e sócio-económico, para o Oriente e o Hemisfério Sul.

3. O assalto falhado, ou como o sequestrador virou refém


Estes factos são a prova insofismável de que o sonho neoconservador judaico-americano acabou transformado em pesadelo. Todavia, a grande maioria dos seus instigadores, apoiantes e simpatizantes continua a defendê-lo. Classificam-no como “bem intencionado”, “generoso” e prenhe de “boa-fé”. Mas, afinal de contas o que pretendiam os arquitectos da América, versão XXI?
O objectivo era claro e aparentemente simples, face às consequências planetárias da implosão do Império Soviético: transformar os EUA não numa superpotência global, mas na única. O esquema foi urdido no final do século passado e publicamente divulgado, em 2000. Porém, era tão arrogante, inepto e descaradamente desonesto, nos planos material e intelectual, que dificilmente seria exequível. Resumidamente, a ideia nuclear consistia na criação de um todo-poderoso xerifado mundial – com um chefe (EUA) e dois ajudantes (Israel e Grã-Bretanha) – que prestaria serviços de segurança e protecção militar a todos os outros países do mundo, incluindo a exangue Rússia e a aparentemente distraída e laboriosa China, tão ocupada em produzir e enriquecer que, pensavam eles, não lhe restava tempo para pensar.
O tributo a pagar aos “Césares do Terceiro Milénio” seria uma bagatela – o controlo e a exploração, livre e democrática, dos seus recursos nacionais e naturais (petróleo, gás, minerais estratégicos e preciosos – ouro, urânio, nióbio, titânio, crómio, mercúrio (prateado), cobalto, bauxite/alumínio, tungsténio, cobre, manganésio, níquel, platina, tântalo, e muitos mais).
Para se ter uma ideia da dimensão e magnitude do delírio neoconservador é recomendável a leitura do documento original intitulado Reconstruindo as Defesas da América: Estratégias, Forças e Recursos para o Novo Século, concebido e elaborado pelo PNAC - Project for the New American Century/Projecto para o Novo Século Americano – um centro neoconservador de estudos e investigação sobre questões internacionais. As semelhanças com as práticas mais sinistras da Máfia/Cosa Nostra são aterradoras…

Em abono da verdade, este documento mais não era do que a actualização de um outro, escrito em 1996 (na fase final do 1.º mandato da administração Clinton/Gore), talhado à medida para boicotar os acordos israelo-palestianos de Oslo. Em ambos, estiveram presentes, directa ou indirectamente, a convicção, empenhamento e apoio financeiro ou intelectual, de Donald Rumsfeld, Dick Cheney, Paul Wolfowitz, Dov Zakheim, Scootter Libby, Elliot Abrahams e Norman Podhoretz para citar apenas alguns. Menos de um ano depois da divulgação da nova doutrina militar proposta pelo lóbi judaico-americano, os citados, acompanhados de mais umas dezenas de correligionários, passaram a ocupar importantes cargos na primeira Administração Bush/Cheney (Jan/2001). Após o 11 de Setembro, retiraram-na das gavetas, deram-lhe umas pinceladas mais agressivas, e puseram-na oficialmente em prática, em 2002, com o pomposo nome de Estratégia de Segurança Nacional.
Os resultados estão à vista em vários países – Afeganistão, Iraque, Líbano, Cisjordânia, Palestina, Faixa de Gaza. Todos estão atolados no caos, na guerra civil, em limpezas étnicas e em insanáveis conflitos político-religiosos. Balcãs (designadamente, no Kosovo), Curdistão, Chechénia (a espinha atravessada na garganta de Putin), Arménia, Bielorússia, Uzbequistão e as restantes repúblicas ex-soviéticas, que fazem fronteira com a Rússia e a China, individualmente ou em conjunto, tornaram-se geopoliticamente hipersensíveis. Intervenções diplomáticas com elevada descrição, intuição e talento nas artes de negociar e de gerar consensos são os ingredientes recomendados para esta caldeirada geopolítica.
A situação em que vivemos é preocupantemente perigosa. O principal risco, face à situação no terreno, converge com o absoluto descontrolo e a permissividade dos países mais poderosos e das organizações multilaterais. Toneladas de discursos, programas e planos para o combate, alegadamente firme e implacável, a três dos grandes flagelos mundiais – o tráfico de droga, de armamento (convencional e nuclear) e a lavagem de dinheiro – são atirados para o lixo da história, todos os anos por sucessivos governos, independentemente dos seus credos ou ideologias.
Em regiões crescentemente instáveis, e permeáveis à livre circulação de pessoas e de bens militarmente melindrosos, não se vislumbram resultados eficazes

4. Kissinger/Primakov: Bombeiros num incêndio longe do rescaldo


Perante este cenário manda o bom-senso que sejam tomadas medidas eficazes de contenção. Para tanto, está provado que não é através do belicismo e militarismo que serão conseguidos, em tempo útil, resultados satisfatórios para prevenir e evitar um “tsunami” político-militar de dimensões imprevisíveis.
O protagonismo de Kissinger nestas movimentações informais e semi-secretas é o sinal de que os sinos tocaram a rebate nos centros mundiais de decisão, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. A sua entrada em cena representa uma amarga derrota para os indefectíveis neoconservadores.
Agora, como diria Pombal, a prioridade é enterrar os mortos e cuidar dos vivos. O mesmo é dizer que importa recuperar o que ainda é possível e, pacientemente, juntar e colar os cacos resultantes das coboiadas organizadas pela dupla Bush/Cheney na Eurásia e no Médio Oriente.
Por tudo isto, podem chamar-lhe o que quiserem mas, de facto, esta é mais uma operação de diplomacia paralela, protagonizada pelo octogenário (84) HK. Escassos sete anos depois do fatídico 9/11, a velha raposa da geopolítica mundial, com o alto patrocínio de Putin, deu o pontapé de saída para uma série de cimeiras, bilaterais e informais, entre os EUA e a Rússia. A iniciativa convoca Washington e Moscovo para o debate sobre o futuro das relações entre as duas potências. “Rússia-EUA: Um olhar sobre o futuro” foi o ponto de partida acordado. Suficientemente amplo para nele caber tudo o que é estratégico para ambos os lados.
Não estamos a falar de um novo mapa cor-de-rosa. Os tempos mudaram e o mundo também. Os “mandantes anglo-americanos” parece terem chegado à conclusão de que é mais avisado acomodarem os respectivos interesses à mesa das negociações e não em trincheiras militares. Para já com os russos. Logo a seguir com a China, Índia e Brasil. Uma plataforma mais alargada, plural e realista na óptica do equilíbrio global de poderes.
Do lado soviético, a tarefa de liderar a equipa negocial coube ao agora septuagenário (77) antigo porta-voz do Soviete Supremo da URSS na era de Gorbachev e primeiro-ministro (09/1998 a 05/1999) de um dos instáveis governos que caracterizaram a fase final da era de Yeltsin: Yevgeny Maksimovich Primakov. Experiente e reciclado da ressaca soviética, é um profundo conhecedor dos serviços secretos russos e das relações americano-soviéticas desde o início da guerra-fria, como veremos mais adiante.
No que concerne a peso político e experiência, Kissinger e Primakov representam os interesses da casta de dirigentes políticos “realistas” que considera ter sido um erro caro e perigoso permitir que a transição do mundo bipolar para outra coisa qualquer, que ainda se encontra longe da estabilidade, tenha sido conduzida de forma desregulada. O mundo foi colocado perante uma nova realidade. Multiespectral pelas sombras e ilusões que pode provocar. Multilateral pelo substancial alargamento da mancha global de decisão nas suas diferentes e, por vezes, contraditórias valências. Por isso é mais complexa, difícil de controlar e muito menos previsível. Nesta nova correlação de forças, indianos, chineses e brasileiros, são cartas do baralho que não devem ser menosprezadas ou ignoradas.
No final da primeira reunião de trabalho, em 13 de Julho passado, os dois altos dignitários das gerontocracias americana e soviética declinaram comentar detalhadamente o conteúdo das conversações que classificaram de “bem sucedidas”. Ambos sublinharam que se tratou do “primeiro de uma série de encontros de alto nível” entre as duas superpotências do século XX.
“Discutimos muitos temas. O nosso objectivo não era obter qualquer tipo de cobertura mediática, nem marcar pontos em termos de relações públicas ou de enviar quaisquer tipos de mensagens propagandísticas para consumo doméstico. Estivemos aqui para resolver problemas”, precisou Primakov. “Em meados de Dezembro voltaremos a encontrar-nos em Washington, D.C.,” para trocar impressões com o presidente Bush, concluiu.
Por seu turno, Kissinger, no estilo que lhe é peculiar, negou que o unilateralismo de Washington tenha sido um dos pontos críticos da reunião. Astutamente enfatizou que “a proliferação nuclear” e “as ameaças atómicas” são os reais perigos para a paz mundial e relegou para plano secundário as políticas públicas estadunidenses. Um realpolitiker, na mais profunda concepção germânica do termo…
“Nós apreciámos o tempo que o presidente Putin nos concedeu e a forma franca como expôs os seus pontos de vista”, sublinhou Kissinger classificando-os como uma abordagem caracterizada pelo “realismo e abertura”. “Todavia, não penso – acrescentou – que a expansão [americana] seja um problema nesta fase. Neste momento o problema chave centra-se na forma como poderá ser evitado um conflito nuclear e, neste particular, nós acreditamos que a Rússia e a América devem ter objectivos comuns.”
Esta retórica significa que a reunião foi bem mais fértil em pomos de discórdia do que em áreas de convergência e que, a linguagem utilizada, por vezes, poderá ter ultrapassado os limites do politicamente correcto.

5. Putin: Arte geopolítica tropeçou na rasteira da “imprensa livre”…


A ideia deste tipo de encontros surgiu no início do segundo trimestre de 2007, em Moscovo, durante um encontro privado entre Putin, Kissinger e Primakov. O chefe do Kremlin tê-los-á encorajado a desenvolver e a aprofundar o debate, mas com os pés bem assentes na terra.
“O resultado das vossas reflexões deve manter-se afastado dos nossos ministérios dos Negócios Estrangeiros para evitar poeiras e ruídos inconvenientes. O desfecho do diálogo deverá ter o mesmo tratamento dado àqueles assuntos que, uma vez acordados, deveremos pôr em prática”, terá dito Putin.
Pragmático e calculista, o presidente russo sugeriu que as conversações deveriam envolver um alargado painel de especialistas e aconselhou que as abordagens fossem realizadas sem preconceitos, com abertura e franqueza, de parte a parte.
“Não nos podemos dar ao luxo de permitir que as relações entre a Rússia e os Estados Unidos sejam contaminadas por questões internas de cada país. Não devemos permitir que o nosso relacionamento bilateral seja negativamente influenciado por temas tão tacanhos como, por exemplo, campanhas eleitorais na Rússia ou nos EUA,” acentuou o chefe de estado russo.
É obvio que ao fazer declarações sobre o tema, moderadamente reproduzidas por uma ínfima parte da imprensa russa, objectivamente, Putin quis lançar a confusão e a divisão no campo adversário. Contudo, não foi muito bem sucedido, uma vez que, os chamados meios de comunicação de massas do Ocidente, quase ignoraram o tema salvo raríssimas excepções…
A este respeito quem melhor que o patriarca David Rockefeller (BG + TC + CFR) para nos dar a sua opinião sobre os bastidores dos “fazedores de opinião” e a promíscua relação que mantêm com os diversos agentes do (s) Poder (es): “Estamos gratos ao The Washington Post, The New York Times, Time Magazine e outras grandes publicações, cujos directores participaram nas nossas reuniões, respeitando os seus compromissos de discrição, durante quase 40 anos. Teria sido impossível desenvolvermos o nosso plano para o mundo se a nossa acção tivesse estado sujeita aos holofotes da publicidade durante estes anos. Mas o mundo está agora mais sofisticado e preparado para seguir em frente, rumo a um governo mundial. A soberania multinacional de uma elite intelectual e de banqueiros globais é seguramente preferível, à autodeterminação nacional praticada nos séculos passados.”
A frase foi proferida por DR, sem sofismas, em Junho de 1991, em Baden Baden (Alemanha), durante uma das reuniões da Trilateral Commission, perante uma audiência de prosélitos dos principais países e continentes, empenhados na criação da supracitada rockefelleriana Nova Ordem Mundial (NOM). Entre eles encontravam-se alguns directores de jornais, rádios e televisões dos países mais desenvolvidos do mundo. Nos estatutos editoriais que os regem encontramos arrebatadas declarações de princípio sobre a independência, a separação de poderes, a procura da verdade etc…

6. Os “Dream Teams”

6.1. Os Globetrotters americanos


A equipa americana, para além de Kissinger, destacado membro da Santíssima Trindade fundamentalista da superioridade moral da “Civilização Ocidental” (BG+TC+CFR), incluiu outros sequazes seus, todos políticos com lugar cativo na categoria dos pesos pesados da NOM anglo-americana:

- George P. Shultz, também octogenário (86), foi um influente Secretário de Estado no 1.º mandato da administração Reagan/Bush (pai) entre 1982-1989. Muito experiente na gestão do gigantesco aparelho diplomático e na condução da política externa do país, Schultz ocupou, com discrição mas poderosa influência, vários cargos ministeriais na administração Nixon; simultaneamente dirigiu e comandou (1974-1982) a gigantesca Bechtel (um dos maiores conglomerados industriais, nas áreas da construção civil, obras públicas, petróleos, energia nuclear e equipamentos de defesa, com estatuto de fornecedor directo do Pentágono). Tal como Kissinger, é membro de vários think tanks, como o CFR. Juntamente com Condoleezza Rice (sua protegida no mundo académico e na alta política) foi instrumental na estratégia que, desde 1998, definiu e coordenou a eficaz plataforma eleitoral republicana. Em 2000, George W. Bush jurou “respeitar e fazer respeitar” a Constituição americana na cerimónia de posse como 43.º presidente dos EUA;

- Robert Rubin, (68), banqueiro de topo e “partner” em empresas financeiras do grupo Rockefeller (Citigroup, Goldman Sachs, p. ex.). Foi Secretário do Tesouro (1995-1999), cargo que nos Estados Unidos é equivalente ao de ministro das finanças na Europa, na administração Clinton/Gore; é membro da Phi Beta Kappa Society, a mais antiga associação académica e honorífica americana, que estimula e reconhece a excelência universitária. Fundada em 1776, a PBK aglutina mais de meio milhão de membros; actualmente é também vice-presidente em exercício do CFR;

- Thomas Graham, Jr., embaixador (73 anos), um dos mais experimentados diplomatas e negociadores americanos sobre questões relacionadas com controlo de armamento, não proliferação de armas nucleares e desarmamento; desde os anos 50, foi conselheiro de vários presidentes e de uma miríade de órgãos do poder executivo e legislativo dos Estados Unidos, bem como de inúmeras ONG’s, fundações e organizações cívicas; é um vibrante defensor da tolerância zero relativamente à proliferação nuclear e ocupa cargos executivos e consultivos num significativo número de empresas;

- Samuel Nunn, antigo senador da Geórgia (1972-1997), foi, em 2001, co-fundador com Ted Turner (o visionário empreendedor que criou a cadeia televisiva CNN), da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear (NTI, acrónimo inglês), ocupando até ao presente os cargos de co-presidente e presidente do conselho de administração (CEO) daquela influente organização, cuja principal missão consiste em reduzir a proliferação de ADM’s – Armas de Destruição Maciça; Neste campo liderou louváveis e eficazes processos legislativos (Programa de Cooperação para a Contenção de Ameaças, também conhecido como Programa Nunn-Lugar (por ter sido elaborado conjuntamente com o senador Richard Lugar) no âmbito da Agência para a Contenção de Ameaças Militares; desempenhou um papel central como dinamizador, em estreita cooperação com o Kremlin, dos meios financeiros e logísticos necessários para efectivar o desmantelamento de ADM’s e correlativas infra-estruturas na ex-URSS e países satélites, conforme o acordo SALT II (Tratado para a Limitação de Armamento Estratégico). Fundou e é docente na Sam Nunn School of International Affairs, faculdade integrada na Universidade Técnica da Geórgia, e ocupa o cargo de presidente do conselho de administração do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Acumula estes cargos com os de administrador de grandes multinacionais como a petrolífera Chevron Corp. (Grupo Rockefeller), Coca-Cola, General Electric e Dell Computer.


- David O’Reilly, 60 anos, irlandês é, desde 2000, o presidente e CEO da Chevron Corp. Fez toda a sua carreira, após a formatura em engenharia no University College, em Dublin, e tal como os seus compagnons de route nesta “operação Estrela Vermelha”, é um executivo de topo e membro activo de várias organizações, públicas e privadas, think tanks (institutos de estudos e pesquisa) e de instituições que se ocupam de assuntos geopolíticos e geoestratégicos relacionados com a indústria petrolífera. Eis uma pequena parte da longa lista: Director da Comissão Executiva e da Comissão de Políticas Públicas do American Petroleum Institute; Director do Eisenhower Fellowships Board of Trustees; membro do World Economic Forum's International Business Council, do National Petroleum Council, do Business Council, do JPMorgan International Council, do King Fahd University of Petroleum & Minerals International Advisory Board, da American Society of Corporate Executives. Final e incontornavelmente é membro proeminente da poderosa Trilateral Commission [co-fundada, em 1973, por David Rockefeller e Zbigniew Brzezinski, antigo Conselheiro para a Segurança Nacional (1977-1981) na Administração Carter].

6.1. A equipa da Federação Russa

- Yevgeny Maximovich Primakov, Para além de antigo primeiro-ministro foi, entre outros cargos importantes, o último porta-voz do Soviete Supremo da URSS e, a seguir ao golpe militar de 1991, director-adjunto do KGB. Os seus críticos e inimigos, internos e externos, acusam-no de, entre 1956-1970 ter sido um agente encoberto do KGB, disfarçado de jornalista radiofónico e corresponde do jornal oficial do PC da URSS, Pravda (A Verdade), no Médio Oriente. Nome de código: Maksim. No final do consulado Yeltsin, como ministro dos Negócios Estrangeiros (1996-1998), a sua acção ficou marcada pela política de “desacoplamento” de Moscovo relativamente a Washington, impondo um curso mais de acordo com a tradição russa – nacionalismo, reforço da segurança externa e aumento da influência e controlo sobre as políticas internas nas jovens repúblicas recém independentes das “garras de Moscovo”. Por outro lado, foi neste período que o Kremlin reforçou os seus laços com a China e a Índia, abrindo caminho a um contrapoder à supremacia unilateral estadunidense. Primakov, entre 1999/2000, ainda se aventurou como potencial adversário de Putin nas eleições presidenciais que se seguiram à inesperada renúncia de Yeltsin, em 31 de Dezembro de 1999. Manobrista e táctico, quando percebeu que não tinha apoios suficientes para o vencer, o ex-KGB abandonou a corrida e pouco depois era conselheiro do actual chefe do Kremlin.

- Sergei Viktorovich Lavrov, 57 anos, licenciado em 1972 pelo Instituto do Estado de Moscovo de Relações Internacionais; domina com proficiência diversas línguas (inglês, francês e cingalês). Este último aprendeu-o no Sri Lanka (antigo Ceilão), onde iniciou a sua longa carreira diplomática – com cargos sucessivamente mais importantes quer no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Moscovo (1976-1981), quer na ONU (1981-1988) onde cumpriu uma primeira missão. Nos anos de brasa, que coincidiram com o final da era Gorbachev e o início da era Yeltsin, regressou a Moscovo, ao MNE, onde retomou o seu percurso como director-adjunto do Departamento de Relações Económicas Internacionais (1988-1990), tendo chegado a vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa (1992-1994); depois voltou a Nova Iorque para chefiar a Representação Permanente da Federação Russa nas Nações Unidas. Em 2004, Putin chamou-o para ocupar o posto de ministro dos Negócios Estrangeiros, sucedendo a Igor Ivanov, um influente representante de uma das quatro facções políticas mais importantes nos corredores do Kremlin (os siloviki, um substantivo que, em russo, significa “poder” e popularmente serve de rótulo aos membros do complexo militar-industrial russo e funcionários da polícia secreta).

- Yuli Mikhailovich Vorontsov, com 78 anos de idade, serviu o país como diplomata de carreira, desde a sua licenciatura, na Escola Superior de Relações Internacionais, Moscovo, em 1952. Tal como Putin nasceu em São Petersburgo. Da escola Gromiko, toda a sua juventude foi dedicada ao estudo e à política; o primeiro posto da carreira ocupou-o em Nova Iorque (1954-1958) integrando a equipa de diplomatas juniores da Missão Permanente da URSS na ONU. Nos anos 60/70 foi conselheiro da Missão e da Embaixada soviética em Washington. Em 1969, era ministro-conselheiro, às ordens do celebérrimo embaixador Anatoliy Dobrynin que mantinha uma relação especial com Kissinger, durante a Administração Nixon. Foi embaixador na Índia, em França, no Afeganistão, durante a ocupação soviética, na ONU, em Washington e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros (1986). No final da carreira foi conselheiro diplomático do presidente Yeltsin.

- Leonid Vadimovich Drachevsky, actualmente é vice-presidente da gigante russa UES (uma das holdings que gere a produção e distribuição de energia hidroeléctrica e nuclear; neste cargo tem desempenhado um importante papel negociações com a China para o fornecimento de energia eléctrica e projectos de instalação de centrais nucleares. É claramente um dos homens de confiança de Putin, que o projectou para altos cargos na administração russa, desde que tomou posse como primeiro-ministro, em 07/05/1999; três semanas depois, Drachevsky foi nomeado ministro para os Assuntos da CEI (Comunidade dos Estados Independentes/Bloco supranacional que agrupa 11 países independentes após o desmembramento da ex-URSS: Arménia, Azerbeijão, Bielorússia, Geórgia, Casaquistão, Quirguistão, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia, Uzbequistão); Ocupou o cargo durante um ano; A seguir foi nomeado enviado presidencial para o Distrito Federal da Sibéria, até Outubro de 2004, passando depois a ocupar o actual cargo na UES; Leonid Drachevsky é uma personalidade avessa a protagonismos, discretíssimo e, mesmo na Rússia, era relativamente pouco conhecido quando foi, pela primeira vez, nomeado por Putin. “A nomeação mais surpreendente” escreveu na altura o Izvestia, certamente por ser dos poucos “eleitos” para o núcleo duro da governação que não fez carreira nos serviços secretos. Com 65 anos, licenciado em química, serviu o regime soviético nos organismos de topo do desporto russo durante cerca de 25 anos, fechando o ciclo, em 1990-1991, no cargo de vice-presidente da Comissão Estatal para a Cultura Física e Desporto. Depois de várias pós-graduações que foi fazendo ao longo dos anos, na Universidade do Partido Comunista da URSS, enveredou pela carreira diplomática, ocupando diversos postos, intermédios e superiores. Durante sete meses, entre 1998-1999, foi ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros.

- Alexander Livshits, 61 anos, é desde Março do corrente ano Director de Projectos Internacionais da Companhia Reunida RUSAL, gigante russa do alumínio (matéria-prima estratégica para o fabrico de ligas metálicas e componentes estruturais para a indústria aeronáutica e aeroespacial bem como para o fabrico de cilindros hidráulicos); A sua formação académica (economista, com pós-graduação em cibernética), para além de o ter ocupado durante uma boa parte do percurso profissional como estudante, assistente, e professor catedrático de Economia no Instituto de Mecânica de Moscovo (1971-1992), acabaria por o catapultar para a política. Na sequência da dissolução da URSS, foi Director-adjunto do Centro Analítico da Administração Presidencial (1992-1993), chefe da equipa de conselheiros e principal assessor económico do presidente Boris Yeltsin (1994-1996), ministro das Finanças, representante da Federação Russa no FMI (1996-1997); posteriormente foi também representante do presidente russo no Conselho do Banco Central e nas comissões do G8 (1997-2000). Com a chegada de Putin ao poder, assumiu a presidência do Banco de Crédito Russo. Entrou para a holding estatal do alumínio em 2000, e é presidente do Conselho de Supervisão do Soyus Bank. Na fase de transição Yeltsin/Putin destacou-se pelas suas posições críticas face aos Estados Unidos e às tentativas de Washington para isolar economicamente a Rússia. É um firme apoiante de Putin na política de repressão militar dos movimentos independentistas chechenos.

- Mikhail Alexeyevich Moiseyev, 68 anos, foi Chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho (1988-1991); nasceu no extremo oriente da URSS (Amur Oblast) e frequentou a Academia de Estudos Superiores Militares de Blagoveshchensk, e ingressou nas forças armadas soviéticas em 1961 (unidade de carros de combate blindados). Entre 1969-1972, frequentou um curso de Altos Comandos, na Academia Militar de Frunze, uma das mais reputadas do país na formação de generais e patentes similares, chegando rapidamente ao posto de major-general, na segunda metade da década de 70. Em 1982, foi graduado com a medalha de ouro, pela Academia Militar para oficiais generais do Estado-maior do Exército. Durante os anos 80 comandou tropas no distrito militar federal do extremo oriente, Comandante-geral do exército, cargo do qual foi demitido, em 1991, devido ao seu apoio à insurreição militar que tentou derrubar o presidente Mikahil Gorbachev. Em 1992, foi consultor militar do Soviete Supremo da Rússia, após o que passou à reserva. Fundou um partido político – União – sob o lema “Lei, Ordem, Estado de Direito.” Putin, após vencer as eleições, nomeou-o membro da comissão governamental encarregada de tratar das questões relacionadas com a segurança social dos militares.

Estes são “homens do presidente”. Desfrutam de grande poder e de influência política. Mas, outros, que ocupam cargos de alta direcção em gigantescos conglomerados russos – defesa, energia, banca e seguros, telecomunicações, transportes e media – para além das cartas políticas, têm um colete adicional à prova de bala – o imenso peso económico das empresas estratégicas que dirigem e que rapidamente sobem na escala das “galácticas” equipas da globalização.